‘Florestas em miniatura’: Solo formado no topo das árvores é rico em vida mas é ameaçado pelas alterações climáticas



Tendemos a pensar que o solo apenas se forma no chão. Mas nas florestas tropicais pode também formar-se sobre e por entre os ramos de algumas árvores, especialmente as mais velhas e de maiores dimensões, e constituem importantes habitats e até mesmo sumidouros de carbono que os cientistas dizem que não devem menosprezados.

Jessica Murray, investigadora da Universidade Estadual do Utah, nos Estados Unidos da América (EUA), e a sua equipa estudaram o solo formado nos ramos de dezenas de árvores em zonas de floresta tropical na Costa Rica, para perceber onde esse tipo de solo se forma e qual o seu grau de vulnerabilidade às alterações climáticas.

Nesta imagem, a investigadora Jessica Murray estuda o solo formado no topo de uma árvore na região de Monteverde, na Costa Rica. Na fotografia, um dos troncos está coberto por um ‘tapete’ de solo, enquanto outro está totalmente ‘despido’.
Foto: Artigo

A cientista, primeira autora do artigo publicado na revista ‘Geoderma’, explica que esse ‘solo canopial’ (na canópia florestal) forma-se mais frequentemente em florestas tropicais, frescas e com altos níveis de humidade, “onde as árvores são grandes e antigas”. No entanto, alerta que esses tipos de floresta são também os mais ameaçados pelas alterações climáticas e pela desflorestação.

Bonnie Wang, outra das autoras, avança que esses solos “são ricos em nutrientes e podem ser grandes armazéns de carbono”. E acrescenta que “o facto de só agora começarmos a reconhecer a sua importância é extraordinário”, apontando que podemos estar a destruí-los mais rapidamente do que os conseguimos estudar.

Subindo a árvores com alturas entre os 15 e os 30 metros nas florestas tropicais da Costa Rica, os investigadores verificaram uma grande diversidade na composição biológica e química dos solos formados na canópia, até em amostras recolhidas no mesmo ramo. Por isso, dizem que o solo formado no dossel florestal constitui “florestas em miniatura”, com abundância de plantas, como epífitos, e animais, sobretudo invertebrados, que ajudam a manter várias espécies de aves tropicais.

Embora não saibam ao certo quanto tempo demora a formação desse tipo de solo, os cientistas sugerem que poderá levar mais de 100 anos. E isso levanta preocupações sobre a sua capacidade de recuperação num planeta cada vez mais quente, em que se desaparecerem podem não voltar a formar-se.

Murray considera que é importante determinar o contributo desse tipo de solo para o sequestro de carbono que ocorre nas florestas e, assim, para a mitigação das alterações climáticas. Para isso, é preciso saber a quantidade de solo canopial que existe, e a investigadora acredita que é possível usar imagens de satélite ou sensores remotos para fazer quantificações numa determinada área.

“Se estes solos são cruciais para que a floresta seja um ótimo sumidouro de carbono, então a sua formação deve ser considerada um sinal claro de uma floresta totalmente recuperada”, afirma.





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