Formigas colonizaram o planeta ao seguirem o rasto das plantas com flor
Poucas são as espécies que atualmente têm uma distribuição tão alargada como as formigas, talvez só mesmo os humanos consigam superar a ubiquidade desses invertebrados. Estima-se que existam 2,5 milhões de formigas por cada Homo sapiens na Terra, com mais de 14 mil espécies em todos os continentes, exceto na Antártida.
No entanto, muito se tem teorizado sobre como esses animais terão colonizado o planeta. Agora, uma nova investigação propõe uma possível resposta a esse mistério de longa data.
Num artigo divulgado na passada sexta-feira na revista ‘Evolution Letters’, cientistas do Field Museum e da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos da América, descobriram que as formigas e as plantas, especialmente as que dão flor (angiospérmicas), evoluíram lado a lado ao longo dos últimos 60 milhões de anos.
Através da análise de formigas em resina fossilizada (âmbar), de material genético e da ecologia de espécies atuais de angiospérmicas e de formigas, os investigadores perceberam que, quando as plantas com flor conseguiram expandir-se além das florestas, também as formigas se aventuraram para lá dos limites das áreas florestadas antigas. E acreditam que terá sido essa expansão que permitiu a evolução de milhares de espécies de formigas que hoje vivem.
“Quando hoje olhamos para o mundo, podemos ver formigas em praticamente todos os continentes a ocuparem uma série de diferentes habitats”, afirma Matthew Nelsen, do Field Museum e principal autor do artigo, que explica ainda que a colonização da Terra por esses artrópodes não se ficou pela superfície, mas aconteceu também no subsolo.
Para identificarem a ligação evolutiva entre as formigas e as plantas com flor, a equipa tentou reconstruir os ambientes de há dezenas de milhares de anos para perceber a relação entre os indivíduos desses dois grandes grupos taxonómicos.
Os resultados mostram que, há aproximadamente 60 milhões de anos, as formigas viviam sobretudo nas florestas e faziam ninhos debaixo da terra. Foi também por essa altura que algumas plantas, segundo conta Nelsen, começaram a “exalar mais vapor de água através de pequenos orifícios nas suas folhas”, os estomas, fazendo subir os níveis de temperatura e de humidade e criando ambientes semelhantes aos que hoje conhecemos nas florestas tropicais.
Por isso, algumas formigas começaram a abandonar os seus ninhos subterrâneos e a procurar locais mais frescos e menos húmidos no topo das árvores. Quando as plantas com flor começaram a procurar áreas mais secas fora dessas florestas húmidas e quentes, as formigas terão seguido no seu encalço, pois dependiam dessas espécies vegetais para se alimentarem.
“Outros cientistas já mostraram que as plantas nesses habitats áridos desenvolveram formas de produzir alimento para as formigas”, indica Nelsen, explicando que se estabeleceram relações simbióticas entre as formigas e as angiospérmicas, em que as primeiras atuavam, ainda que inadvertidamente, como dispersores naturais das sementes das plantas enquanto se alimentavam, num claro cenário de ‘ganho ecológico mútuo’.
“Este estudo demonstra o papel importante que as plantas desempenham na estruturação dos ecossistemas”, afirma, pois “mudanças nas comunidades de plantas – como aquelas que vemos como consequência de alterações climáticas históricas e modernas – podem despoletar efeitos em cascata e impactar os animais e outros organismos que dependem destas plantas”.