Fóssil com 125 milhões de anos descoberto em Sesimbra é o primeiro iguanodonte do Cretácico português
Há cerca de 125 milhões de anos, durante o Cretácico Inferior, um dinossauro herbívoro deambulava por vales repletos de vegetação no que é hoje a Península Ibérica.
No município de Sesimbra, uma equipa de cientistas descobriu recentemente um crânio dessa espécie, até então desconhecida da Ciência, batizando-a com o nome científico Cariocecus bocagei e declarando-a como o primeiro iguanodonte descoberto para o Cretácico português.
A descoberta foi divulgada recentemente na revista ‘Journal of Systematic Palaeontology’, num artigo em que os investigadores explicam que este novo iguanodonte vivia no que hoje chamamos Formação Papo Seco, partilhando o seu habitat com os gigantes herbívoros titanossauros (dinossauros saurópodes de pescoço e cauda compridos) e um “primo” do Iberospinus, um famoso predador do grupo dos espinossauros.
Segundos os cientistas, outros iguanodontes foram descobertos, no passado, no mesmo local, mas nenhum possuía as características necessárias para ser considerado uma nova espécie.
Em comunicado, apontam que o posicionamento estratigráfico, que dizem ser decisivo para a datação do fóssil descoberto, foi possível graças ao “trabalho minucioso” de correlação de idades e de análise da evolução dos ambientes sedimentares da sequência estratigráfica.
“A excecional preservação e tridimensionalidade dos vários elementos do crânio do Cariocecus permitiram a reconstrução digital do cérebro, dos nervos cranianos e, principalmente, do ouvido interno”, refere a equipa em comunicado.
Estudos recentes demonstraram como a compreensão do ouvido interno e das suas propriedades físicas podem oferecer novas perspetivas sobre o metabolismo dos dinossauros. Por isso, os investigadores estão convictos de que os resultados obtidos com o Cariocecus poderão contribuir para a descoberta de novas informações sobre aspetos sensoriais e termoregulatórios destes animais.
O género Cariocecus refere-se à antiga divindade da guerra, ‘Cariocecus’, venerada pelas populações locais no período pré-romano. O nome dessa divindade foi posteriormente alterado para Marte e Ares com a conquista romana do território. Quanto ao nome da espécie, bocagei, os cientistas dizem ser uma homenagem ao famoso naturalista português do século XIX, José Vicente Barbosa du Bocage.
Este estudo foi coordenado por Filippo Bertozzo, do Museu Real de Ciências Naturais de Bruxelas e do Centro de Paleobiologia e Paleoecologia (Ci2Paleo) da Sociedade de História Natural de Torres Vedras (SHN) e é assinado por José Carlos Kullberg (Universidade Nova de Lisboa), pelo italiano Fabio Manucci, por Victor Feijó de Carvalho (SHN), por Silvério D. Figueiredo (Instituto Politécnico de Tomar) e pelo belga Pascal Godefroit (Real Instituto de História Natural da Bélgica).