GEOTA: “Chegou a altura de começar a preparar Portugal para o próximo verão” para que incêndios diminuam “drasticamente”
Este ano, foram registados 10.449 incêndios rurais, uma subida de cerca de 3 mil incêndios face ao ano de 2021, tendo sido consumidos 110.007 hectares pelos fogos, o que representa o valor mais elevado desde 2017 em Portugal, segundo os últimos dados oficiais do ICNF. O GEOTA apela ao governo e aos cidadãos para que sejam feitos esforços no sentido de recuperar a área ardida nos últimos anos e que se desenvolvam ações de prevenção a pensar no verão de 2023.
“Os incêndios e o seu combate entram na agenda mediática todos os verões, mas rapidamente perdem protagonismo. É necessário admitir que não é no verão que se previnem os incêndios. É fundamental que durante todo o ano os esforços se prolonguem, sobretudo para antecipar catástrofes como foi o incêndio da Serra da Estrela.”, esclarece João Dias Coelho, Presidente do GEOTA, citado em comunicado.
Segundo o 8.º Relatório Provisório de Incêndios Rurais do ICNF, comparando os valores do ano de 2022 com o histórico dos 10 anos anteriores, assinala-se que o ano de 2022 apresenta, até ao dia 15 de outubro, o quarto valor menos elevado em número de incêndios, no entanto o quinto valor mais elevado em área ardida. A área ardida em 2022 foi aproximadamente duas vezes superior aos anos de 2018, 2019 e 2020 e quatro vezes superior ao ano de 2021. O relatório revela ainda que mais de um quarto dos incêndios rurais registados este ano teve como origem o fogo posto, sendo esta a segunda causa mais frequente, depois das queimas e queimadas, o que demonstra a necessidade de mais campanhas de sensibilização.
Hectares de área ardida revelam “uma má prevenção e gestão da nossa floresta”
Miguel Jerónimo, coordenador dos projetos Renature, também citado em comunicado, reforça que “este ano, mais do que o número de incêndios, o grande problema foram os hectares de área ardida, o que revela uma má prevenção e gestão da nossa floresta. Por outro lado, não podemos abandonar as áreas ardidas. Temos de apostar numa política de proximidade com as populações e proprietários florestais que ajude a recuperar o passivo ambiental, económico e social que é deixado pelos incêndios, ao invés de aplicarmos a maioria dos nossos esforços e recursos no combate aos incêndios.”
Segundo a proposta de Orçamento de Estado para 2023 estão cabimentados cerca de 112 milhões de euros para a despesa com a locação de meios aéreos e para as Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários no âmbito do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR). “Desafiamos o Governo a demonstrar qual será o investimento total previsto para 2023 na real transformação da paisagem, ou seja, que valores do orçamento vão ser aplicados na recuperação das áreas ardidas garantindo assim uma floresta biodiversa, com espécies autóctones e gerida a curto, médio e longo prazo.”, afirma Miguel Jerónimo.
Em 2019, o GEOTA criou o primeiro projeto Renature, na sequência do grande incêndio de 2018 que dizimou a floresta da Serra de Monchique, no qual se desenvolvem ações de reflorestação e de recuperação da área ardida. Até ao momento, o Renature Monchique iniciou a recuperação em cerca de 800 hectares e estão a ser apoiados cerca de 60 proprietários. Em resultado dos trabalhos no terreno já foram plantadas 200.000 árvores autóctones e é esperado que até março de 2023 sejam plantadas mais 75.000.
Replicando o trabalho que tem vindo a ser feito, o GEOTA criou em 2021 um segundo projeto, o Renature Leiria. O projeto tem como objetivo devolver o verde ao Pinhal de Leiria com 1.300 000 árvores até 2026. O conjunto de intervenções visa recuperar e rearborizar cerca de 1.000 hectares, tendo sido plantadas até ao momento 50.000 árvores.
Até 2026 estes dois projetos representam um investimento de 3,7 milhões de euros, com financiamento 100% privado.