Glaciar na Antártida recuou oito quilómetros em apenas dois meses (vídeo)



O glaciar Hektoria, localizado na Península Antártica, recuou pelo menos oito quilómetros entre novembro e dezembro de 2022 — um ritmo quase dez vezes superior ao registado anteriormente para qualquer glaciar assente em terra. A descoberta, publicada na revista Nature Geoscience, foi feita por uma equipa internacional de cientistas que alerta para o potencial impacto deste fenómeno na subida do nível do mar.

Os investigadores analisaram imagens de satélite e de aviões, bem como dados altimétricos recolhidos sobre o glaciar Hektoria entre fevereiro de 2022 e agosto de 2023. Durante esse período, o glaciar recuou cerca de 25 quilómetros, tendo a taxa máxima de retração ocorrido no final de 2022, quando a frente do glaciar avançou para o interior à razão de cerca de 800 metros por dia.

“Este recuo é quase uma ordem de magnitude superior a qualquer valor anteriormente publicado para glaciares assentes em terra”, referem os autores do estudo.

Normalmente, glaciares deste tipo recuam apenas algumas centenas de metros por ano. O derretimento destas massas de gelo contribui diretamente para o aumento do nível do mar, pelo que compreender a rapidez com que estes processos ocorrem é essencial para prever de forma mais precisa o impacto das alterações climáticas.

Segundo a equipa liderada por Naomi Ochwat, o episódio de retração extrema coincidiu com uma série de sismos registados na região, cujos padrões de onda eram consistentes com o desprendimento de grandes blocos de gelo — os chamados “icebergs” — de um glaciar assente.

Os cientistas propõem que este comportamento pode estar associado a um processo pouco estudado de desestabilização glacial. O glaciar Hektoria terá recuado sobre uma “planície de gelo” — uma zona plana de rocha situada entre a parte assente e a parte flutuante do glaciar. À medida que a camada de gelo se foi tornando mais fina, a flutuação provocada pela pressão do oceano aumentou, acelerando a separação de grandes massas de gelo.

“Este tipo de planícies de gelo já foi identificado noutras regiões da Antártida e da Gronelândia”, explicam os autores. “Mapear a topografia subglacial é fundamental para avaliar o risco de desestabilizações súbitas semelhantes e compreender o seu potencial impacto na subida global do nível do mar.”

A investigação reforça a importância de monitorizar continuamente os glaciares antárticos — considerados “gigantes adormecidos” — numa altura em que o aquecimento global está a acelerar transformações profundas no gelo polar.






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