Golfinho sobrevive há seis meses com corda atada à cauda. Cientistas alertam para perigo da captura acidental



Em 2022, investigadores da Associação para Investigação do Meio Marinho (AIMM) detetaram um golfinho-comum (Delphinus delphis) com uma corda atada à cauda, ao largo da costa algarvia. Já este ano, o animal voltou a ser avistado, ainda vivo.

Através da comparação de fotografias da barbatana dorsal, os cientistas conseguiram determinar que se trata do mesmo golfinho em ambos os avistamentos. Embora reconheçam que o facto de ter sobrevivido durante todo este tempo com uma corda no pedúnculo, não deixam de lamentar que o animal ainda carregue esse objeto fabricado pelos humanos.

À direita, fotografia tirada no final de 2022. À esquerda, o mesmo golfinho, captado numa foto tirada seis meses depois, já este ano.
Foto: Associação para Investigação do Meio Marinho (AIMM)

Os investigadores da AIMM sugerem que esse animal tenham sido alvo de captura acidental, isto é, que tenha ficado enredado nas artes de pesca de uma qualquer embarcação pesqueira que operava nas mesmas águas frequentadas pelo golfinho.

Dizem que a captura acidental é “especialmente perigosa” para animais que precisam de vir à superfície para respirarem, como é o caso das aves, tartarugas e mamíferos marinhos.

“Na pior das hipóteses, estes animais não conseguem vir à superfície e/ou são arrastados por um barco, e muitos acabam por morrer de asfixia”, explicam, acrescentando que “se o animal sobreviver, muitas vezes é lançado de volta ao mar, permanecendo com consequências deste incidente, como no caso que observámos”.

Os especialistas acreditam que o cabo preso à barbatana caudal poderá ter causado “lesões superficiais, perturbações na alimentação e diminuição da sua capacidade de se mover”.

Além disso, “também pode ter causado problemas em acompanhar o resto do grupo, pois precisaria de gastar mais energia para nadar à mesma velocidade e, por isso, não ter a mesma constância que os outros”. Ainda assim, dizem que é uma “boa notícia” o facto de o animal em questão não ter sido avistado sozinho, mas num grupo com outros quatro golfinhos.

O cabo pode também levar à perda de circulação sanguínea na barbatana e, eventualmente, à perda desse membro. No entanto, os investigadores da AIMM dizem que, por agora, não há indícios de que tal esteja a acontecer.

“O trauma desta situação também pode afetar a reprodução do indivíduo, o que resulta no decréscimo dos níveis da população da espécie. De facto, a captura acidental é considerada uma das maiores ameaças para os cetáceos em todo o mundo. Logo, é um dos maiores desafios para a conservação destas espécies”, alertam os cientistas.

Em declarações à ‘Green Savers’, Joana Castro, presidente da AIMM, explicou que o golfinho “aparentemente estava bem” e garantiu que o caso foi já reportado às autoridades competentes. Contudo, embora um possível resgate não seja da competência da associação, mas de entidades como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e da guarda costeira, explicou que seria uma operação “muito difícil”.

Isto, porque o animal, apesar da corda presa à cauda, apresenta uma grande capacidade de mobilidade e, além disso, não é um animal residente. “É um animal que apareceu naquele dia [no final de 2022] e só o voltámos a ver seis meses depois”, contou-nos a responsável.

Quanto ao futuro deste golfinho, não será o mais feliz. Joana Castro explicou-nos que, com base em casos semelhantes anteriores, é praticamente “inevitável” que o animal acabe por morrer, à medida que a corda for sendo colonizada por pequenos organismos marinhos que aumentarão o seu peso e, consequentemente, reduzirão progressivamente a capacidade do golfinho para acompanhar o seu grupo, para caçar e para vir à superfície respirar.

Se vir um animal nestas condições, contacte a guarda costeira

Se se deparar com um animal numa situação semelhante, o melhor que tem a fazer é contactar a guarda costeira, informando a autoridade das suas coordenadas GPS, e recolher imagens que permitam aos especialistas identificar a espécie e facilitar uma possível intervenção.

A AIMM desaconselha “resgatar o animal por conta própria”, pois isso “pode ser muito mais complicado do que parece”.

“Resgatar o animal pode colocar a pessoa em perigo, se esta não tiver tido treino adequado. Cetáceos são animais selvagens de grande porte com comportamentos imprevisíveis, especialmente nesta situação, o que pode colocar o animal em perigo e em stress”, recorda a associação científica.





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