Impunidade provocou aumento das mortes de ambientalistas no Brasil
A impunidade dos crimes contra ativistas que defendem o ambiente no Brasil é uma das principais causas do aumento das ameaças e mortes desses líderes, afirmou ontem o secretário executivo da rede Observatório do Clima, Marcio Astrini.
Segundo dados da ONG Global Witness, o Brasil, com 34 assassinatos em 2022, é o segundo país latino-americano, depois da Colômbia, onde mais líderes ambientais são assassinados.
“Essa impunidade acaba alimentando a violência e os assassinatos”, disse Astrini, que dirige esta rede que reúne mais de 70 entidades da sociedade civil brasileira.
O especialista destacou que no país há um elevado número de pessoas que foram assassinadas ou que estão na lista de pessoas ameaçadas às quais “o Estado brasileiro não consegue dar resposta”.
Para Astrini, embora a impunidade seja um mal que continua e se repetiu durante vários Governos ao longo da história, a violência foi especialmente protegida durante o mandato de Jair Bolsonaro (2019-2022), defensor da economia de exploração da Amazónia, até mesmo nas terras dos povos indígenas.
Segundo o especialista, durante o Governo Bolsonaro houve um estímulo à invasão de terras e ao crime, mas, sobretudo, um “estímulo muito grande para que os crimes contínuos permanecessem impunes e terminassem vitoriosos”.
Além de flexibilizar os controlos das organizações públicas que fiscalizam o ambiente, Bolsonaro reduziu o orçamento destinado a essas entidades e reduziu o seu quadro de funcionários.
Estas medidas levaram a um aumento da mineração ilegal e de outras atividades, como o comércio ilícito de madeira, o que também aumentou as taxas de desflorestamento na Amazónia.
Astrini indicou que o atual Governo, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, está muito comprometido com a questão ambiental e todos os seus aspetos, “mas só os compromissos não são suficientes”.
“O Governo poderia demarcar mais terras indígenas, realizar mais ações nos territórios invadidos, acelerar a destinação de terras para a agricultura familiar (…) e ter mais ações afirmativas contra a impunidade no campo”, observou.
Para o especialista, o partido no poder também tem de ser “mais agressivo” no parlamento brasileiro contra as agendas contra o ambiente que são promovidas pela direita.