Insectos comestíveis estão cada vez mais populares no México
O mercado de San Juan, na Cidade do México, é o sítio indicado para os consumidores mais aventureiros conseguirem encontrar iguarias como avestruz, javali e crocodilo. Mas as variedades mais caras no mercado não são estas – esse rótulo fica a cargo dos insectos. As chicatanas congeladas – ou formigas com asas gigantes –, por exemplo, custam cerca de €379 (R$ 1.113) o quilo.
Aqui os insectos são vendidos em jeito de ligação aos pré-hispânicos, aos astecas e a outras civilizações que floresceram durante milénios com dietas ricas em larvas, gafanhotos e outros invertebrados comestíveis. Se os insectívoros foram vistos, durante muito tempo, como símbolo do atraso rural pela elite mexicana, hoje estas iguarias estão a ser levadas para alguns dos restaurantes mais requintados do país. Os chefs procuram agora ingredientes regionais esotéricos para a gastronomia conhecida como de alta qualidade.
“Estes são alimentos que foram consumidos em tempos pré-hispânicos, porque não havia carne, mas agora são vistos como de luxo”, disse Lesley Tellez, escritora de comida, ao Guardian. “É parte de uma tendência maior de trazer elementos tradicionais mexicanos de volta para a mesa, dando-lhes o valor que merecem.”
O México tem cerca de 300 a 550 espécies de insectos comestíveis – mais do que qualquer outro país do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Em comunidades rurais pobres nos planaltos centrais do país e nos estados do sul, as famílias comem insectos há várias gerações, como tradição, mas também como necessidade, em ausência da carne.
A maioria dos insectos comestíveis do México são capturados em estado selvagem e então vendidos nos mercados regionais ou transportados para as cidades. Entre as iguarias mais preciosas estão os escamoles (larvas de formigas), os cumiles (percevejos) e os ahuatle (ovos de água de insectos).
Por via da crescente popularidade, algumas espécies de insectos selvagens começam a tornar-se escassas. No estado de Hidalgo, abundante em escamol (larvas de formiga), os ninhos são destruídos por vendedores que deixam as colónias totalmente expostas após o furto das suas larvas.
O que é certo é que os insectos poderiam, de facto, tornar-se numa solução a muitos problemas do mundo. Eles não precisam de tractores nem de sistemas de irrigação. Resta às pessoas darem-lhes uma oportunidade.