Investigadores portugueses avisam que destruição de zonas húmidas ameaça aves limícolas



Vários estudos científicos e organizações ambientalistas, como a Birdlife International, já alertaram que mais de metade das populações de aves limícolas costeiras, como os maçaricos, os pilritos e os borrelhos, estão a registar perdas. Apesar de ser um fenómeno que acontece um pouco por todo o mundo, os cientistas estão ainda a tentar compreender as causas desse declínio populacional.

Essas espécies de aves vivem em ambientes húmidos ao longo da costa marítima e procuram alimento nas zonas entremarés e nas margens de lagoas e estuários. Por serem migradores de longa distância, acabam por sofrer os impactos das alterações nos seus habitats em vários pontos do planeta.

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa estudou a relação entre alterações nas zonas húmidas e a redução dessas espécies de aves e acredita que a primeira pode ser uma das principais causas da segunda.

Pilritos-semipalmados (Calidris pusilla) alimentam-se numa praia. Fonte: Unsplash

Através da análise de imagens de satélite captadas ao longo dos últimos 20 anos, os quatro cientistas examinaram as mudanças ocorridas durante esse período em 907 áreas costeiras em todo o mundo que consideram ser “de reconhecida importância para as aves e para a biodiversidade”, explicam em comunicado dessa universidade.

O foco incidiu especialmente sobre “as alterações nos habitats que as aves usam para se alimentarem durante a maré vazia e para pousarem durante a mare cheia”. As observações permitiram identificar “alterações particularmente importantes nas zonas de repouso das aves”, áreas que estão acima do nível atingido pela água durante a maré alta, e que estão ameaçadas pela proliferação da vegetação e pela expansão de infraestruturas urbanas.

Além disso, o estudo permitiu também perceber que “vastas áreas de alimentação localizadas na rota migratória do Leste da Ásia e Australásia foram destruídas para dar lugar a zonas industriais, urbanas e pisciculturas”.

Os cientistas assinalam que estas alterações nas zonas húmidas estão a colocar em risco a conservação de aves limícolas costeiras, particularmente as que percorrem essa rota migratória e que estão já a sofrer duras perdas populacionais devido à perda do seu habitat natural.

O artigo que revela as conclusões desta investigação foi divulgado na revista ‘Science of the Total Environment’, e Carlos David Santos, o seu primeiro autor, destaca a importância da abordagem global adotada nesta investigação para o estudo das causas dos declínios das populações destas espécies, que diz ser “um grupo de aves que está já ameaçado”.

O especialista sublinha que muitas dessas espécies de aves limícolas costeiras percorrem longas distâncias durante as suas migrações, podendo mesmo deslocar-se mais de 20 mil quilómetros num ano. “Por isso, podem ser afetadas por alterações ambientais que ocorrem em diferentes regiões do mundo”, salienta, pelo que “uma análise global dessas alterações foi tão importante”.





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