Investigadores portugueses conseguem pôr cortiça a render mais 40%
Investigadores portugueses conseguiram perceber como fazer uma peça de cortiça render mais 40% em média – em mais 85%, no máximo. Segundo o jornal i, esta invenção está a ser trabalhada há pelo menos 30 anos e tem como pano de fundo um desafio lançado pela Corticeira Amorim.
Com esta nova técnica, por exemplo, por cada dez rolhas é possível ter mais três ou quatro sem ser preciso esperar que a árvore volte a renovar a casca, processo que demora nove anos e não dura para sempre.
“Entre as várias áreas que começámos a investigar, surgiu uma ideia relativamente pouco complexa de aumentar o volume dos granulados de cortiça”, explica Helena Pereira, professora do Instituto Superior de Agronomia (ISA), reconhecida pelos trabalhos pioneiros na área da engenharia florestal.
Apoiada por António Velez, também do ISA, resolveu tentar algo nunca feito. A nível molecular, explica a investigadora, a cortiça tem uma estrutura semelhante à dos favos de mel, com várias células alinhadas. Existe, contudo, uma singularidade: as paredes são curvas, o que ocupa espaço.
Este alisamento, que aumenta o tamanho das células e consequentemente o volume da peça de cortiça, acabou por se revelar simples de obter. Bastava que a peça contivesse alguma humidade e fosse exposta a microondas, que tratam do resto, como quando se põe uma coisa a aquecer e fica rija.
Assim, e com as mesmas peças torna-se possível fazer muito mais do que até aqui. “Até agora só testámos esta operação com granulados, ou seja, os excedentes de peças naturais que são processadas. Mas isso não implica que não possa ser aplicado noutras peças”, explica Helena Pereira.
Assim, não estamos ainda a falar de multiplicar rolhas naturais, mas a hipótese não está excluída. Para já, dá para rolhas sintéticas, materiais de revestimento ou peças de mobiliário, entre as inúmeras utilizações de um sector que só na Amorim gera €300 milhões por ano. A nível nacional, as exportações de cortiça e derivados atingiram em 2012 os €845 milhões, um aumento de 10% em relação a 2010.