Investigadores transformam estrume de vaca em água limpa



Se a vida nos der limões, diz o ditado, deveremos fazer limonada. Mas não foi esta a fórmula aplicada pela Universidade do Michigan num projecto colossal e que arrancou há dez anos: investigar a produção de água limpa a partir de estrume de vaca.

A tecnologia, tornada agora pública, extrai nutrientes e poluentes do estrume das vacas e produz água suficientemente limpa para o gado beber. A tecnologia tem um nome próprio – McLanahan Nutrient Separation System – e começou a ser desenvolvida há dez anos, na universidade norte-americana. Ainda não está na fase de comercialização mas, caso lá chegue, terá um impacto significativo na redução de resíduos das explorações agrícolas e gestão de recursos.

“No Michigan temos uma tendência para dar a água como garantida. Mas no oeste, por exemplo, a seca continua a ser um tema importante. E o acesso a água limpa pode fazer a diferente entre uma exploração manter-se viável ou ir à falência”, explicou um professor da Universidade do Michigan, Steve Safferman, ao site da instituição.

Este separador de nutrientes usa um digestor anaeróbio, no qual as bactérias partem o estrume para libertar gás que pode ser recolhido e utilizado como energia. O digestor é acoplado a um sistema que combina a extracção do ar, ultrafiltração e osmose inversa para remover poluentes e deixar a água limpa.

O sistema não só cria energia e água a partir da água, mas reduz o impacto ambiental do estrume, extraindo nutrientes como amónia, que podem ser prejudiciais ao ambiente, e transforma-os em adubo utilizável.

Caso seja comercializável, este sistema será certamente um sucesso. Em 2011, cada quinta norte-americana tinha, em média, 179 vacas. Uma vaca produz 37.800 litros de estrume por ano, dizem os cientistas, mas 90% deste é água. O sistema captar 190 litros de água limpa por cada 380 litros de estrume, embora os próprios investigadores queiram aumentar este número para 250 litros de água para 380 de estrume.

Ou seja: se uma exploração agrícola acumula 6,7 milhões de litros de estrume por ano, ela poderá produzir quase 3,4 milhões de litros de água, quase a custo zero.

Segundo a universidade, o sistema poderá começar a ser comercializado no final do ano. É provável, porém, que só aqui a muitos anos chegue ao mercado europeu – e a Portugal.

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