Luta contra o tempo para salvar o gato-bravo da extinção na Escócia



O gato-bravo (Felis silvestris) é a espécie de felídeo selvagem mais comum e a mais amplamente distribuída em todo o mundo. Embora esteja classificada como ‘Pouco Preocupante’, o declínio das populações devido à perda de habitat, da caça e da hibridação com gatos domésticos atinge níveis críticos em algumas regiões.

Uma delas é a Escócia, no Reino Unido. Estudos sugerem que o cruzamento entre essas duas espécies pode ter resultado numa diminuição em cerca de 88% da população escocesa. Em 2019, estimava-se que nesse local existiriam apenas perto de 30 gatos-bravos, razão pela qual a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) alertou que, sem medidas urgentes, a espécie arriscava ficar funcionalmente extinta.

Para evitar esse cenário, os conservacionistas puseram mãos à obra. Durante o verão, a organização britânica Saving Wildcats libertou 19 gatos-bravos numa região com uma vasta mancha florestal de pinheiros nas terras altas da Escócia, um parque natural gerido pela Sociedade Zoológica Real da Escócia (RZSS).

Em comunicado, a organização diz que esta é somente a primeira libertação de um programa de reprodução em cativeiro que tem como objetivo colocar na natureza cerca de 60 indivíduos.

Um dos gatos-bravos libertados na Escócia pela Saving Wildcats, equipado com uma coleira GPS.
Foto: Saving Wildcats / Facebook

A iniciativa é uma estreia no Reino Unido, pois nunca antes haviam sido libertados gatos-bravos nesse país. De acordo com a responsável de conservação da RZSS e coordenadora de projetos da Saving Wildcats, Helen Senn, “tem sido um sucesso até agora”.

Em comunicado, explica que “a vida em meio selvagem está repleta de riscos e, embora a maioria dos gatos-bravos libertados estejam atualmente bem, temos de nos lembrar que agora esses são animais selvagens que provavelmente enfrentarão desafios significativos à medida que nos aproximamos do inverno, com extremos climáticos e um declínio esperado da presa natural”.

Os animais foram marcados com coleiras-GPS, que permitem aos especialistas seguirem os seus movimentos depois de libertados. E até agora foi registada a morte de um dos felídeos, mas Senn aponta que “seria altamente invulgar que todos os gatos-bravos libertados sobrevivessem ao primeiro ano, mesmo com as preparações cuidadosas do projeto”.

A necropsia revelou que o animal morreu de uma infeção na zona abdominal, conhecida como peritonite.

Embora a primeira libertação pareça estar a seguir ‘de vento em popa’, ainda há muito trabalho a fazer.

“Estas são as primeiras libertações de teste e, com base em experiências de projetos semelhantes pelo mundo fora, mais libertações e muitos mais anos de ação de conservação serão necessários para aumentar a probabilidade de salvar esta espécie icónica na Escócia”, salienta a responsável. Outras libertações estão agendadas para os próximos dois anos.

A Saving Wildcats está também a trabalhar com proprietários e gestores de terrenos e comunidades locais onde estejam presentes os gatos-bravos libertados para promover a sua conservação e sensibilizar para a sua proteção.

Em Portugal, o gato-bravo é considerado uma espécie ‘Em Perigo’, de acordo com a mais recente avaliação publicada no Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, apresentado este ano. Ainda que não se conheça ao certo a dimensão da população nacional deste felídeo, os especialistas sugerem que estará em declínio e estima-se que a espécie ocupe atualmente uma área inferior a 500 quilómetros quadrados.

Entre as principais ameaças ao gato-bravo em Portugal estão a degradação do seu habitat natural, “os potenciais efeitos da hibridação”, a caça ilegal, a morte por atropelamento e a escassez da sua presa, o coelho-bravo, aponta o Livro Vermelho.





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