Mais de 300 navios naufragados em Cabo Verde e mais de 120 documentados



Cabo Verde já certificou mais de 300 navios naufragados, dos quais mais de 120 já estão documentados e o país quer reforçar a sua capacidade técnica para salvaguardar o património subaquático, disse ontem fonte oficial.

“Temos mais de 300 naufrágios. Destes 300 naufrágios, mais de 120 já estão documentados. Portanto, destes 120, mais de uma dezena já foram estudados, já foram escavados”, afirmou Ana Samira Silva Baessa, nova presidente do Instituto do Património Cultural (IPC) de Cabo Verde, na Praia, à margem do início do curso Arqueologia Subaquática, Margulhar2.

Segundo a responsável, a ideia do curso visa reforçar as capacidades nacionais, numa altura em que o país quer promover a valorização destes sítios no contexto da criação dos parques arqueológicos subaquáticos.

A presidente do IPC considerou que a formação vai permitir reforçar capacidades no sentido de preservar os sítios e criar, numa próxima fase, as condições para que sejam visitados, o que será de “grande valia” para Cabo Verde.

Conforme explicou, o curso em arqueologia subaquática decorre no âmbito da implementação das atividades do projeto Margulhar2 e com a duração de seis dias, sendo dois destinados à componente teórica.

“Os formandos vão entrar nos conceitos de património da arqueologia subaquática e quatro dias vai ser a componente prática do curso onde este exercício vai ser feito no naufrágio da fragata ‘Urânia’, que é uma fragata que naufragou em 1809, ali perto da zona do ilhéu de Santa Maria e, portanto, na prática, os formandos vão trabalhar a questão da preservação da proteção dos sítios arqueológicos ‘in situ'”, avançou.

Segundo Samira Baessa, a convenção para salvaguarda do património cultural aquático determina que, havendo condições nos sítios dos naufrágios, os vestígios devem ser preservados no local.

“Nós recebemos um financiamento global de 110 mil euros para implementar atividades que visem a valorização e a salvaguarda do património subaquático. Portanto, destas ações destacam-se as atividades de sensibilização com as escolas, com as comunidades costeiras, com as entidades ligadas ao mar, mas também ações de formação e capacitação dos técnicos e dos profissionais do Instituto do Património Cultural, mas também de outras entidades que têm alguma relação com o mar, no sentido de promover melhores conhecimentos sobre este domínio da arqueologia subaquática e implementar o plano de ação para a salvaguarda do património subaquático que Cabo Verde elaborou em 2018”, salientou.

Segundo o arqueólogo do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa José Bettencourt, que ministra a formação, o património subaquático de Cabo Verde é “muito importante” porque permite contar a história do Atlântico no geral e compreendê-la e defendeu a ideia de colaborar e contribuir para que os profissionais do património comecem a ficar autónomos na adoção e implementação de medidas necessárias à gestão do património.

“Agora será muito importante dotar Cabo Verde dos meios humanos e técnicos mínimos que permitam fazer essa gestão diária. Colaborar e contribuir para que os profissionais do património cabo-verdianos comecem a ficar autónomos na adoção e implementação de medidas necessárias à gestão desse património, esse é o objetivo principal do curso”, afirmou o professor.

A Lusa noticiou em julho de 2022 que a União Europeia (UE) iria financiar Cabo Verde com 110 mil euros para implementar o projeto Margullar2, e intervir na melhoria dos museus relacionados com a temática do mar.

O projeto que será desenvolvido em três grandes eixos, nomeadamente a reativação dos centros de arqueologia marítima para a valorização do património histórico subaquático, a proteção e preservação do património submerso, com a criação de redes de parques arqueológicos subaquáticos e a valorização deste património submerso da Macaronésia.

Já quanto ao Margullar1, os resultados foram publicados no livro “Memória em Pedra” e permitiu um olhar sobre o património subaquático e contar a história do país, num projeto desenvolvido em parceria com as ilhas da Macaronésia (Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde).

A iniciativa visa articular o património e turismo através da realização de trabalhos de arqueologia subaquática para a preservação e conservação do património marinho, para a sua posterior valorização e aproveitamento, com foco na melhoria da atratividade e promoção do turismo nestas regiões.





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