Maria Inês Moreira, BIO+Sintra: “Todos os projectos co-financiados pelo LIFE+ pressupõem continuidade”.
Incluído no programa LIFE+, da Comissão Europeia, o projecto BIO+Sintra vai ter continuidade e espera continuar a promover a mudança de mentalidades nos concelhos de Sintra e Cascais, de acordo com Maria Inês Moreira.
Em entrevista ao Green Savers, a coordenadora do BIO+Sintra fez um balanço do projecto e revelou alguns dos próximos passos da iniciativa. Mas poucos, porque o factor surpresa é estratégico.
Estamos sensivelmente a meio do projecto BIO+Sintra. Que balanço faz até agora?
O balanço é extremamente positivo. Tem havido um empenho muito grande de toda a equipa do projecto, no sentido de ir ao encontro das expectativas que a Comissão Europeia tem para o BIO+Sintra, e esse empenho tem-se traduzido em óptimos resultados. As metas propostas estão a ser atingidas e, neste ano e meio que passou, conseguimos lançar as bases para garantir o sucesso do projecto. Definimos a identidade gráfica e a estratégia de comunicação a adoptar e estabelecemos a baseline da percepção ambiental e das emissões do carbono.
Neste momento temos já implementadas duas acções: os workshops de sensibilização ambiental, no âmbito dos quais temos recebido várias escolas e acções de voluntariado de empresas, e os concursos de fotografia, cuja segunda edição terminou no início de Março, estando a divulgação dos resultados prevista para o final do mês. Ambas as acções estão a ser bem recebidas pelos públicos a quem se destinam.
Só esta semana, por exemplo, recebemos mais de 100 alunos para realização de vários workshops e tem resultado muito bem, os alunos vêm com muita vontade de trabalhar em prol do ambiente e saem bastante motivados para a mudança de comportamento.
Quanto aos concursos, nesta sessão recebemos mais de 80 fotografias que estão agora a ser avaliadas pelo júri. Notam-se diferenças relativamente ao primeiro concurso, a mensagem está a passar e estamos a receber mais fotografias e com mais qualidade. A exposição resultante da sessão de Outono 2011, patente no Palácio de Monserrate até ao final deste mês, já teve imagens muito boas e bem representativas da biodiversidade em Sintra e espera-se que a exposição relativa ao Inverno 2012 resulte ainda melhor.
O site do BIO+Sintra está a funcionar muito bem, estando para breve a disponibilização de ferramentas determinantes para o sucesso do projecto, como as calculadoras da pegada de carbono e o jogo interactivo. Implementámos uma presença regular no Facebook e produzimos uma brochura, fundamental para a comunicação com os stakeholders do projecto, e dois folhetos para distribuição nas áreas geridas pela Parques de Sintra, através dos quais as pessoas ficam a saber como se podem envolver no projecto e contribuir para diminuir as emissões de carbono.
Resumindo, o BIO+Sintra está no bom caminho e vamos certamente continuar a trabalhar com o mesmo entusiasmo e empenho para atingir os resultados esperados.
Quais os pontos altos de ano e meio de BIO+Sintra?
Destacaria dois momentos muito importantes para o projecto. O primeiro foi a visita da Comissão Europeia, a 8 de Abril de 2011, porque esta visita só está prevista uma vez durante o tempo de vida de cada projecto e é nessa altura que temos a oportunidade de apresentar os objectivos, as acções previstas e os resultados esperados aos representantes do Programa LIFE+.
O nosso projecto estava ainda no início, a dar os primeiros passos e não tínhamos muitos resultados para mostrar.
Desenvolvemos para o efeito um mini-projecto em colaboração da Carlucci American International School of Lisbon, no qual os alunos calcularam a pegada de carbono de uma Queijada de Sintra fabricada por métodos artesanais e com ingredientes adquiridos na região e, depois, compararam os resultados com a de um croissant. Os resultados foram apresentados pelos próprios alunos, na Quintinha de Monserrate, como exemplo do tipo de colaboração que pode surgir entre o BIO+Sintra e os stakeholders do projecto.
Foi uma visita que correu muito bem e onde conseguimos, mesmo sem resultados ainda para apresentar, transmitir aos representantes da Comissão Europeia todas as potencialidades do projecto.
O segundo foi a Primeira Conferência do BIO+Sintra, a 9 de Novembro de 2011, porque foi a primeira vez que reunimos os stakeholders mais importantes e lhes apresentámos o projecto. Foi um momento determinante, que contou com a participação de representantes da Comissão Europeia em Portugal e de investigadores na área das alterações climáticas e com a presença do Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural.
Gostava ainda de destacar o lançamento do website BIO+Sintra, também em Novembro de 2011, que é a principal ferramenta deste projecto. Um dos compromissos assumidos foi o de minimizar a produção de material de comunicação em papel e, nesse aspecto, o site é onde tudo acontece, onde as pessoas terão acesso ao jogo, às calculadoras de carbono, onde se poderão inscrever nos concursos de fotografia, tornarem-se amigos dos valores naturais e manterem-se informadas de tudo o que acontece no projecto.
Quais as raízes do BIO+Sintra, ou seja, como surgiu a oportunidade de dedicar um projecto à biodiversidade de Sintra, apoiado pelo Life+?
A grande oportunidade surgiu quando, em 2008, o Programa LIFE+ abriu candidaturas para uma nova vertente: a Informação e Comunicação. Este segmento do LIFE+ co-financia projectos que actuem em determinados problemas ambientais através de acções de sensibilização.
A partir daí surgiu a ideia de aproveitar todo o potencial que temos na Paisagem Cultural e as valências da Parques de Sintra, na área da comunicação, para implementar o BIO+Sintra. Percebemos que tínhamos tudo para fazer o projecto funcionar, porque, na altura da candidatura, recebíamos quase 900 mil visitas por ano (esse número ultrapassou 1 milhão em 2011) o que nos proporcionava a possibilidade de fazer chegar a todas essas pessoas as mensagens que queríamos transmitir.
Tínhamos a noção de que grande parte destes visitantes conhecem e procuram o património edificado, mas poucos são os que têm uma noção dos valores naturais que constituem o ecossistema da Serra de Sintra. Por outro lado, Sintra é um concelho densamente urbanizado e com uma população que, na altura da candidatura, era estimada em mais de 445 mil habitantes.
Embora não houvesse ainda dados concretos sobre a percepção ambiental, tínhamos a noção, confirmada pelos resultados da caracterização do público-alvo, de que uma grande percentagem destas pessoas não se apercebiam da forma como a acção humana directa pode afectar a biodiversidade.
O facto de trabalharmos muito com as escolas também nos abria boas perspectivas para a implementação de um projecto deste género, porque os jovens e as crianças são muito permeáveis às mensagens, apreendem facilmente os conceitos e são óptimos agentes de disseminação do projecto, porque transmitem o que aprenderam à família, aos amigos. Com todos estes factores em mente começou a nascer a ideia do BIO+Sintra, que amadurecemos até às candidaturas ao Programa LIFE+ em 2009.
Findo este período, há a possibilidade de estender o projecto?
Todos os projectos co-financiados pelo Programa LIFE+ pressupõem continuidade. Não se pretendem projectos estanques no tempo, que não se estendam para lá do período em que são co-financiados, porque correríamos o risco de deitar por terra os esforços conseguidos ao longo dos três anos.
O BIO+Sintra pretende lançar os alicerces para que, em conjunto com a população dos concelhos de Sintra e Cascais e os visitantes da Paisagem Cultural, se caminhe no sentido da diminuição das emissões de carbono e consequente valorização da biodiversidade de Sintra.
Nesse aspecto os stakeholders têm um papel muito importante, porque serão os agentes de continuidade do projecto e de disseminação das mensagens ao longo do tempo. De um ponto de vista mais específico, quase todas as acções do BIO+Sintra foram pensadas para continuarem mesmo depois do projecto terminar.
Os workshops passarão a fazer parte da nossa programação escolar anual, as visitas TalkingNature estarão disponíveis para o público, os quiosques vão continuar a funcionar nos vários Centros de Atendimento ao Visitante, com todas as ferramentas que permitem calcular uma visita mais sustentável à Paisagem Cultural e os caminhos pedestres vão continuar a poder ser utilizados por todos. Isto para citar apenas alguns exemplos.
Que novos projectos pensam lançar, nos próximos meses, no BIO+Sintra?
Esperam-se dois ou três meses determinantes para o projecto, pois serão implementadas várias acções neste curto espaço de tempo. Os quiosques, com as calculadoras da pegada de carbono e o jogo interactivo, vão ser instalados brevemente em vários locais frequentados pelos visitantes da Paisagem Cultural.
As visitas TalkingNature também serão apresentadas ao público dentro de pouco tempo e o documentário tem ante-estreia prevista para antes do Verão. Vamos igualmente começar a implementar os questionários de monitorização dos resultados, de forma a conseguir perceber se o projecto está a chegar aos vários segmentos do público-alvo, se estamos a conseguir passar as mensagens e a mudar as atitudes das pessoas.
Disse há uns meses que queria reduzir em 128 mil toneladas as emissões de carbono, até ao final do projecto. Que números poderão já avançar?
Neste momento ainda não nos é possível avançar com números. Vamos receber, ainda este mês, o relatório do trabalho efectuado pelo FUNDEC, em que é estabelecida a baseline de emissões de carbono dos Concelhos de Sintra e de Cascais, e só depois disso iremos então, como já referi, implementar os questionários que nos vão permitir saber em que ponto estamos no que respeita aos resultados do projecto.
O jogo interactivo também nos vai ajudar nesse aspecto, porque está imaginado de forma a que os jogadores utilizem conceitos transmitidos pelo projecto para cumprir com sucesso as várias tarefas que o constituem e, dessa forma, nós vamos poder avaliar o sucesso com que estamos a impactar o público escolar, a quem se destina o jogo.
Aguardamos também este mês o relatório do estudo que o ISA efectuou para o BIO+Sintra e que nos dará uma estimativa do carbono que será fixado pelas reflorestações que estamos a fazer no âmbito do projecto.
É importante explicar que as emissões de carbono podem ser fidedignamente estimadas através de valores de referência relacionados com os hábitos das pessoas no que respeita a vários aspectos da sua vida, energéticos, de mobilidade, de alimentação. Por isso é que vamos utilizar os questionários para chegarmos aos resultados do projecto.
Em Agosto de 2013 está prevista a repetição do inquérito realizado, em Agosto de 2011, para fazer a caracterização inicial do público-alvo e os resultados vão-nos permitir saber até onde chegou o projecto, quer em termos de alteração das atitudes das pessoas, quer em termos das emissões de carbono.
Como definiria, em termos de percepção ambiental, os habitantes/visitantes do concelho de Sintra?
O inquérito de caracterização inicial do público-alvo permitiu-nos saber como é que os públicos-alvo do BIO+Sintra apreendem os vários conceitos ambientais abordados pelo projecto. Há vários aspectos interessantes a salientar, por exemplo, uma grande percentagem das pessoas inquiridas já ouviu falar de biodiversidade, mas dessas são poucas as que reconhecem totalmente a sua importância ou relacionam a sua perda com as alterações climáticas.
Aliás, apenas uma pequena percentagem tem uma noção verdadeiramente correcta do significa o termo “biodiversidade”. Por outro lado, grande parte dos inquiridos mostra vontade de alterar as suas atitudes do dia-a-dia em prol da valorização da biodiversidade, e isso são boas noticia para o projecto, porque significa que as acções têm tudo para serem bem recebidas pelas pessoas e terem bons resultados. Claro que os resultados variam entre os vários segmentos de público-alvo mas, no geral, eu diria que temos vários aspectos que precisam de ser trabalhados para melhorar a percepção ambiental das pessoas, mas temos uma boa base para desenvolver esse trabalho e boas probabilidades de conseguir óptimos resultados.
Apesar de já decorrer há ano e meio, só agora é que o projecto está a ganhar notoriedade. Porque razão?
Foi sobretudo uma estratégia pensada para dar mais notoriedade ao projecto exactamente no momento em que há mais acções a serem implementadas e que a necessidade de as comunicar é maior.
Antes de se fazer a caracterização inicial do público-alvo não queríamos falar muito sobre as questões ambientais abordadas pelo projecto, para não corrermos o risco de estar a influenciar já as respostas das pessoas aos inquéritos. Quando este marco foi atingido, quisemos começar a levantar o véu, introduzir a ideia BIO+Sintra na vida das pessoas e suscitar a curiosidade.
Nesta altura começaram a surgir menções ao projecto em alguns meios de comunicação, pequenas reportagens. O principal momento de divulgação foi pensado para a primeira conferência do projecto, porque foi um marco muito importante que quisemos aproveitar, e a partir daí tem havido um investimento grande na divulgação das várias acções.
Agora é o momento ideal para termos o BIO+Sintra nos meios de comunicação, porque estão a acontecer muitas coisas importantes para o projecto e queremos que as pessoas saibam disso e sejam impactadas pelas acções.
Já foram contactados no sentido de replicar esta iniciativa noutra zona do País ou na Europa?
Não, até agora não houve contactos por parte de outras Paisagens Culturais ou outras Áreas Protegidas nesse sentido. Um dos objectivos propostos para o BIO+Sintra é a elaboração de um Guia de Boas Práticas sobre como comunicar este tipo de questões ambientais noutros pontos do País e do resto da Europa.
Esse guia é um dos produtos do projecto mas, como é expectável, só vai ser elaborado no final, quando já tivermos os resultados da nossa experiência e estivermos em condições de aconselhar outras pessoas que a queiram replicar. Esperemos que, nessa altura, surjam esses contactos e possamos levar o BIO+Sintra mais além.
Que outras novidades nos podem avançar?
Estamos a planear momentos de comunicação e divulgação do projecto, mas não queremos estragar a surpresa. Vão ter de esperar para ver.