Microalgas afinal são mais resilientes às alterações climáticas do que se pensava. E isso são boas notícias
Algas marinhas microscópicas, conhecidas como fitoplâncton, têm uma capacidade maior do que se pensava para se adaptarem aos efeitos das alterações climáticas, como a redução da disponibilidade de nutrientes. Essa escassez deverá agravar-se à medida que os oceanos do planeta, especialmente as águas mais superficiais, aquecerem ainda mais ao longo das próximas décadas.
É precisamente nas camadas mais cimeiras da coluna de água que o fitoplâncton se encontra em maiores números, pois, sendo seres que se alimentam através de fotossíntese, têm de estar perto das zonas onde a radiação solar é capaz de penetrar. Tal como as plantas terrestres e muitas outras algas, esses organismos minúsculos absorvem dióxido de carbono e libertam oxigénio, produzindo cerca de 50% do oxigénio total que respiramos.
Por isso mesmo, é importante perceber como é que a transformação das condições ambientas marinhas causadas pelo aquecimento global afetarão o fitoplâncton, que formam também a base de muitas cadeias alimentares, pelo que o colapso das suas populações muito provavelmente terá impactos imprevisíveis em outras inúmeras espécies.
Contudo, cientistas do Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos acreditam que esse cenário devastador poderá, afinal, não acontecer. Num artigo publicado esta quarta-feira na ‘Science Advances’, os especialistas analisaram dados sobre o fitoplâncton das camadas mais superficiais do oceano e concluíram que, mesmo em ambientes com poucos nutrientes, essas microalgas continuarão a proliferar.
David Karl, Professor de oceanografia da Universidade do Havai e um dos autores, explica que, em condições de escassez de nutrientes, o fitoplâncton pode substituir o fósforo, do qual geralmente depende para produzir energia, por enxofre. Ao longo do tempo, será expectável que sejam cada vez mais os indivíduos de uma mesma comunidade de fitoplâncton que prefiram o enxofre ao fósforo, tornando essa população mais resiliente aos efeitos das alterações climáticas na disponibilidade de nutrientes.
Por isso, os cientistas destacam a importância da ‘plasticidade’ do fitoplâncton, isto é, a sua capacidade para se moldar com sucesso às alterações das condições do ambiente onde vive. Mas não se ficaram por aí.
Para perceberem como oceanos mais quentes podem afetar o fitoplâncton, a equipa criou simulações climáticas em computador, e percebeu que, sem contemplar a plasticidade desses organismos, as previsões apontam para perdas populacionais de 8% em todo o mundo nas próximas décadas. No entanto, quando inseriram essa capacidade nos modelos, as previsões indicavam um aumento de até 5% até ao final deste século.
Eun Young Kwon, outro dos autores do artigo, diz que em certas regiões do mundo, especialmente nas subtropicais, o aumento das populações de fitoplâncton pode mesmo chegar aos 200%, aumentando também a capacidade dos oceanos para capturar carbono diretamente da atmosfera.
Contudo, o cientista avisa que esta plasticidade do fitoplâncton não nos deve deixar descansados, pois essa capacidade não torna esses organismos imunes “às alterações climáticas causadas pelos humanos”. Por exemplo, o aumento da acidez dos oceanos pode dificultar ou mesmo impossibilitar o desenvolvimento e a sobrevivência de alguns tipos de microalgas, “o que pode levar a mudanças de grande escala nos ecossistemas”.
Axel Timmermann, que também esteve envolvido na investigação, diz que os modelos usados para prever os impactos das alterações climáticas devem incluir necessariamente a forma como o fitoplâncton responde a várias pressões. “Isto é necessário para prever o futuro da vida marinha no nosso planeta”, alerta.