“Não há mais tempo a perder”: ONU dá ‘raspanete’ à Europa e diz que é preciso “muito mais ambição” para responder à crise climática



O Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) diz que, “apesar do progresso em certas áreas, os governos na região pan-europeia devem mostrar muito mais ambição no combate às alterações climáticas, na proteção dos ecossistemas e na gestão e redução do desperdício e da poluição”.

A chamada de atenção consta da mais recente avaliação feita por essa agência internacional, que foi tornada pública esta semana e que abrange 54 países da União Europeia, da Associação Europeia de Comércio Livre, dos Balcãs, do Cáucaso, da Europa de Leste e da Ásia Central.

O relatório insta os governos dessa região a agirem para responder “à tripla crise planetária”, que abrange o clima, a natureza e a poluição, e cujos efeitos “estão a fazer-se sentir, mais do que nunca, nas vidas e no bem-estar das pessoas na região pan-europeia”.

Olga Algayerova, diretora-executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa, um órgão que também participou no desenvolvimento do estudo, afirma que as conclusões divulgadas, numa altura em que a Agenda 2030 aproxima-se da reta final, “devem ser uma chamada à ação”.

A responsável salienta que “a seca histórica que a região enfrentou este verão anunciou o que podemos esperar nos próximos anos e mostrou que não há mais tempo a perder”. Sublinhando que as Nações Unidas desenvolveram ferramentas que permitem reduzir as emissões poluentes, promover a economia circular e fortalecer a proteção do ambiente, Algayerova diz que “a sua implementação tem de ser significativamente acelerada”, e isso exigirá “um compromisso político urgente e corajoso e mudanças de comportamento de todos nós, antes que seja demasiado tarde”.

“Sabemos o que temos de fazer, e precisamos de agir em conjunto”, declara, por sua vez, Inger Andersen, diretora do UNEP.

Numa altura em que os cidadãos desta região pan-europeia sentem o aperto dos custos cada vez maiores da energia, de temperaturas extremas sem precedentes e da falta de água, “os países devem mostrar que existe um plano”, afirma Andersen. E deixa uma mensagem clara aos governo europeus: “a única solução é assegurar um futuro limpo e verde”.

No que toca à poluição do ar, a análise indica que, realmente, houve “algum progresso feito nos últimos anos”, mas é preciso fazer mais, pois “a poluição do ar continua a ser o maior risco para a saúde na região”.

Ainda no campo da poluição, os peritos internacionais apontam que os governos têm de reduzir ainda mais as emissões de gases com efeito de estufa, porque apesar dos compromissos assumidos, “as emissões líquidas continuam a aumentar”.

“As reduções, maioritariamente alcançadas na parte ocidental da Europa, são compensadas pelo aumento das emissões no resto da região”, denunciam, apontando que, embora se tenha registado o crescimento das renováveis, em vários países, “a região continua amplamente dependente de combustíveis fósseis”, que representam cerca de 78% do consumo total de energia.

A respeito da água, o UNEP diz que os governos devem colaborar mais eficazmente para proteger os rios, lagos e aquíferos na Europa, que “estão sujeitos a múltiplos stresses” compactados pelas alterações climáticas, colocando em risco a quantidade e a qualidade da água doce.

“A poluição e as descargas urbanas e industriais continuam a ser significativas, e contaminantes orgânicos persistentes são uma preocupação para a saúde pública”, alerta.

Sobre a proteção de ecossistemas, quer em terra, quer no mar, o relatório dá nota negativa à Europa, apontando que “o estado dos ecossistemas continua a ser causa de preocupação, sem que haja evidências de uma clara tendência positiva na região”.

Reconhecendo que “as áreas protegidas na região pan-europeia quase triplicaram nos últimos 30 anos”, os especialistas dizem-nos que os governos devem “tomar medidas adicionais para proteger as florestas primárias e intactas que restam e a sua funcionalidade ecológica”.

O relatório chama ainda a atenção para a necessidade de programas que incentivem “uma economia circular e mais eficiente” para reduzir os desperdício e o uso de recursos, o reforço da resiliência das comunidades locais face a desastres, maior financiamento público para a proteção ambiental e a harmonização regional de políticas com vista a um desenvolvimento sustentável.





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