“Não há razão para que qualquer espécie conhecida de planta seja extinta”



Quando falamos de conservação da biodiversidade, é frequente que o reino da flora acabe por perder destaque para espécies animais, sobretudo os vertebrados. Apesar de estarem hoje a sofrer tanto quanto os animais a pressão de um planeta cada vez mais repleto de humanos e cada vez mais ‘humanizado’, as plantas são muitas vezes relegadas para planos secundários.

Pelo menos, é assim que pensa Richard Corlett, do Jardim Botânico Tropical de Xishuangbanna, na província chinesa de Yunnan, e que esta semana assinou um artigo publicado na revista ‘Trends in Plant Science’, no qual assume, categoricamente, que é possível alcançar um grau de ‘extinção zero’ no que toca às plantas terrestres.

“Apesar da importância da diversidade das plantas para o bem-estar humano, e das ameaças à sua sobrevivência, a conservação de plantas recebe muito menos apoio comparativamente ao que é dado à conservação dos vertebrados”, escreve Corlett, que salienta que “não há razão para que qualquer espécie conhecida de planta seja extinta”.

Isso, porque “as plantas podem ser conservadas in situ, em áreas protegidas, e ex situ, em coleções de espécimes vivos, em bancos de sementes ou em armazéns criogénicos”.

As plantas fornecem-nos alimento, medicamentos, combustível, água limpa e são indispensáveis à sobrevivência de um sem-número de outras espécies de animais e microorganismos. Sem elas, o planeta que hoje conhecemos seria muito diferente, e a vida poderia nem ser possível.
Foto: Alex Lvrs / Unsplash

Uma das principais razões que tem impedido estancar a perda de espécies vegetais, considera o especialista em ecologia das plantas, é a falta de conhecimento que permita inventariar e saber ao certo o estado de conservação de todas as espécies hoje conhecidas, a parca digitalização de dados referentes a essas espécies num “meta-herbário global online” e a existência de exemplares de espécies ameaçadas que possam servir para ajudar a recuperar essas populações.

No entanto, salienta que, realmente, o maior obstáculo “é a falta de pessoas qualificadas”. Afirma Corlett que, mesmo com todas as novas tecnologias que hoje temos e que avançam a cada dia que passa, e com a ajuda de ‘cientistas-cidadãos’ que fornecem aos investigadores informações fundamentais para os seus trabalhos e que, na prática, aumentam o campo de visão dos cientistas, que não podem estar em todo o lado ao mesmo tempo, sem “treino e incentivos” não será possível aumentar o número de especialistas em plantas que permitam, de facto, travar a perda de espécies vegetais,através da sua identificação e conservação.

Corlett recorda que a diversidade de plantas é indispensável para as sociedades humanas, uma vez que é dela que derivam coisas tão importantes para nós como alimentos, medicamentos, combustível e fibras, entre tantas outras, além de que fornecem serviços de ecossistema cruciais para a vida na Terra, como a captura e fixação de carbono, a purificação das águas, a proteção dos solos contra a erosão.

Como se não bastasse, o ‘mundo’ das plantas, que é também o nosso, oferece abrigos e fontes de alimento a um sem-números de animais e outros organismos terrestres, além de “contribuir para os valores espirituais, culturais e emocionais da Natureza”, escreve o especialista.

Apesar disso, estima-se que atualmente entre 21% e 44% de todas as espécies de plantas vasculares (com vasos – xilema e floema- que fazem circular água e nutrientes pela planta) estejam ameaçadas de extinção, sendo que as maiores ameaças são o uso insustentável dos solos e a sobreexploração, bem como o aumento da competição por parte de espécies invasoras e as doenças. E não podemos esquecer os efeitos das alterações climáticas, que certamente terão um papel a desempenhar na distribuição geográfica das plantas e na sua própria sobrevivência.

“Ações para reduzir as ameaças aos ecossistemas naturais são urgentemente necessárias, bem como restauro ecológico de larga-escala em áreas onde esses ecossistemas tenham sido destruídos ou estejam gravemente degradados”, alerta o autor, apontando que “se acabar com a extinção das plantas é potencialmente alcançável, então uma meta menos ambiciosa seria inaceitável”.





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