No Palau, há corais com uma “tolerância extraordinária” às ondas de calor marinhas
O aumento da temperatura do planeta, sobretudo causada pelas concentrações de gases de efeito de estufa lançadas na atmosfera pelas atividades humanas que impedem que o calor da radiação solar se dissipe, está a aquecer os oceanos e a ameaçar os equilíbrios ecológicos marinhos.
Um dos efeitos mais visíveis, e mediatizados, é o fenómeno conhecimento como o ‘branqueamento’ dos corais, pequenos organismos que vivem em simbiose com microalgas unicelulares e que, em conjunto, criam os tão conhecidos recifes que fazem parte do imaginário coletivo de muitos. Contudo, quando a temperatura sobe e atinge o limite que podem suportar, os corais expulsam as algas e o recife transforma-se num mar de estruturas esbranquiçadas.
Nas últimas décadas, ondas de calor marinhas, tal como acontece em terra, têm devastado grandes áreas de recifes um pouco por todo o mundo e levado à morte de milhões de corais. Por isso, e numa altura em que as sociedades humanas estão cada vez mais cientes dos seus impactos negativos no planeta, os cientistas estão a procurar formas de tornar os recifes mais resilientes aos aumentos de temperatura e de recuperar alguns que tinham sido fortemente afetados pelos efeitos das alterações climáticas.
Uma equipa de especialistas dos Estados Unidos, de Singapura e da Arábia Saudita acredita ter encontrado a solução no Palau, um arquipélago localizado na região da Micronésia, no Pacífico oeste.
Nas águas translúcidas dessas ilhas, identificaram uma espécie de coral, a Porites lobata, que parece ter uma “tolerância extraordinária ao calor extremo associado às ondas de calor marinhas”. As larvas desses corais viajam das lagunas na costa até ao mar, “onde sobrevivem e crescem e mantêm a sua tolerância ao calor”, explicam os cientistas, que assinalam que é fundamental perceber os mecanismos que permitem a estes corais tolerar o calor para ser possível fortalecer os esforços de conservação e de restauro.
A descoberta foi divulgada num artigo publicado na ‘Nature’, no qual os autores dizem que os corais Porites “são mais resilientes ao branqueamento do que outras espécies”, especialmente porque não dependem da sua capacidade para produzirem o seu próprio alimento e podem alimentar-se de outros seres vivos (são heterotróficos) e porque os seus pólipos podem abrigar-se nas profundezas da estrutura calcária do coral, protegendo-se de fatores de stress externos.
A investigação centrou-se especialmente nas Rock Islands, uma formação de corais fossilizados na principal laguna de Palau, e onde as águas calmas são geralmente mais quentes do que noutras áreas dos recifes do arquipélago. E foi nesse pequeno ‘oásis’ na costa que os cientistas descobriram linhagens genéticas de corais que são mais resistentes ao aumento da temperatura e, por isso, menos vulneráveis ao branqueamento.
“Isto sugere que as Rocks Islands fornecem larvas naturalmente tolerantes [ao calor] às áreas vizinhas”, escrevem os cientistas no artigo, pelo que “encontrar e proteger tais fontes de corais tolerantes à temperatura é essencial para a sobrevivência dos recifes no quadro das alterações climáticas do século XXI”.
Além disso, a equipa envolvida no projeto considera que “à medida que os oceanos continuam aquecer, os corais originários de habitats extremos [como as Rock Islands] terão uma vantagem competitiva e podem permitir a sobrevivência de recifes que, de outra forma, estariam vulneráveis”.