Número de adolescentes portugueses com excesso de peso não está a diminuir
Os adolescentes estão em geral “mais saudáveis” do que há uma década, conclui o estudo Tendências na Saúde dos Jovens e Determinantes Sociais, publicado na terça-feira passada no The European Journal of Public Health, com base em dados recolhidos em vários países da Europa e América do Norte. Mas o número dos que sofrem de excesso de peso e obesidade não está a diminuir, escreve o Público.
Em 2002, 19% dos rapazes adolescentes portugueses apresentavam excesso de peso ou obesidade. Em 2010, eram 21,34%. Em 25 países analisados, ao longo de oito anos, Portugal esteve sempre no grupo dos seis onde o problema mais se faz sentir entre os jovens. Nas raparigas, as taxas oscilaram entre os 13,54% e os 15,87% (respectivamente em 2002 e 2010).
O trabalho, publicado também no agregador O Meu Bem Estar, é constituído por um conjunto de 21 artigos de investigadores de vários países que analisaram os inquéritos do Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) – um grande levantamento dos comportamentos e estilos de vida dos adolescentes que é publicado de quatro em quatro anos em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) – de 2002, 2006 e 2010. O projecto foi coordenado pela Universidade de St. Andrews, na Escócia, em colaboração com a OMS.
Um dos artigos aborda a prevalência do excesso de peso e da obesidade em 25 países europeus, mais Canadá e Estados Unidos. Sem surpresas, os Estados Unidos ocupam o topo da tabela. A Ucrânia é o país onde o problema tem tido menor dimensão ao longo do período em análise. Em 13 países, o excesso de peso e a obesidade ganharam terreno entre os rapazes, de forma que os peritos consideram significativa. O mesmo aconteceu entre as raparigas, em 12 países. É no leste europeu — caso da Croácia, da República Checa, da Estónia, ou da Rússia, por exemplo — que a situação mais se tem agravado.
Em Portugal, os dados apontam para uma estabilização, segundo os peritos. Mas por que razão o problema se mantém praticamente inalterado? Contactada pelo Público Ana Rito, investigadora do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e coordenadora do programa MUN-SI (Programa de Promoção de Saúde Infantil em Municípios), diz que “Portugal travou o carácter epidemiológico da obesidade, tal como foi estabelecido na conferência europeia de Istambul, na Carta Europeia de Luta contra a Obesidade em 2006. Não houve aumento. Agora, as taxas mantêm-se elevadas.”
“É preciso perceber os factores de risco e prevenir, para que não haja mais crianças e adolescentes com esta doença, e tratar as que têm esta doença.” E isso passa “por um estilo de vida saudável”, acrescenta, referindo que “as crianças e jovens portugueses até apresentam alguns aspectos a seu favor, como um consumo maior do que noutros países de hortofrutículas.
“Mas quando se comparam os níveis de actividade física com os que se observam, por exemplo, no Norte da Europa não há comparação possível” e Portugal sai a perder. Os hábitos das raparigas e dos rapazes portugueses são bem mais sedentários. Não se trata apenas de actividades formais de exercício: “Por exemplo, os pais portugueses não sentem que o caminho de casa para a escola seja seguro, por isso os meninos não vão a pé”, diz.
Neste sentido, adianta que “há uma enorme necessidade de acompanhar as famílias”, que é um dos objectivos do MUN-SI. “O excesso de peso e a obesidade continuam a ser um sério problema de saúde pública”, remata.
Foto: Morgan / Creative Commons