O perfil dos novos agricultores portugueses: Joana Rossa



Filha de um agricultor, Joana Rossa está ligada há vários anos ao sector agrícola. A jovem, que até pertence aos órgãos sociais de duas empresas ligadas ao sector – a cooperativa agrícola dos olivicultores do Ladoeiro e a Hortas D’Idanha –, vai agora seguir as pisadas do pai, com uma exploração de ameixas, romãs e marmelos em Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco.

Esta continuidade da família Rossa na agricultura teve a ajuda do Centro de Frutologia Compal, uma iniciativa de apoio aos empreendedores agrícolas que se pretendem instalar ou aumentar e reconverter a sua exploração agrícola. Depois de uma formação com módulos práticos e teóricos, que contemplou visitas a explorações agrícolas modelo e centros de experimentação – num total de 46 horas – a iniciativa atribuiu três bolsas de €20 mil. Uma delas, a Joana.

“Estava consciente do meu empenhamento e total comprometimento com o projecto final, submetido a apreciação e avaliação. Reconhecia-o inteiramente como o meu projecto de vida e acreditei nele. Tinha algumas expectativas de ganhar a bolsa, mas desviava rapidamente essas expectativas porque reconhecia a qualidade dos projectos dos meus colegas da Academia”, explicou a empreendedora (na foto com José Jordão, presidente do Centro de Frutologia Compal) ao Green Savers.

Os próximos passos vão levá-la a iniciar as operações culturais necessárias à preparação do terreno para a instalação dos pomares, o que deverá decorrer em Fevereiro de 2014. A jovem pretende produzir, no primeiro ano, 123 toneladas de frutos – e 380 toneladas no final dos quatro primeiros anos.

Nova vida

A escolha de Idanha-a-Nova para lançar a sua exploração foi natural. “Não era equacionável escolher qualquer outra. São terras de excepcionais condições de produção agrícola, com excelente disponibilidade de água”, explica.

Por outro lado, e quando começou a participação na Academia, Joana tinha já concorrido à Incubadora de Base Rural – criada pelo Município de Idanha-a-Nova em parceria com o Ministério da Agricultura e Instituto Politécnico de Castelo Branco. Assim, garantiu uma parcela de oito hectares na Herdade da Várzea. Tinha também outra parcela de terreno, com 24.51 hectares, no Monte do Rochão – contíguo à propriedade mencionada. Este foi cedido pelo Arrendamento Rural, promovido pelo Ministério da Agricultura.

“[Vou] instalar três pomares: Romãnzeira (10 hectares), Ameixeira (quatro hectares) e Marmeleiro (quatro hectares). As exigências produtivas [destes] enquadram-se lindamente nas condições edafo-climáticas do nosso concelho”, revela.

Joana elegeu as romãs por estas serem um “super fruto”, não só sob o ponto de vista nutricional, mas também pela “versatilidade dos seus subprodutos e, naturalmente, pela sua rentabilidade”.

“[Escolhi ] os marmeleiros e as ameixeiras pelos mesmos motivos: essencialmente, por serem frutos de produção escassa, apesar de, no caso dos marmeleiros, existirem ainda no nosso concelho algumas árvores de bordadura”, continuou

Pelo meio, antevê os principais problemas que espera encontrar: “[Falo, sobretudo] da problemática da escala na produção agrícola. Portugal está perante a necessidade de abordar uma mudança de paradigma de uma agricultura que, nas últimas décadas, se tem desenvolvido de forma fragmentada, pouco estruturada e que agora necessita de forma premente de concentrar a sua produção, mediante a economia de escala, em estruturas comuns de escoamento, que lhe darão dimensão e capacidade negocial”, revela a jovem.

É preciso, assim, renovar o potencial agrícola. E como o podemos fazer? “Através da construção de relações de interdependência que articulem interesses, instituições e espaços diversos. O reforço da acção colectiva, das trocas e da transferência de partilha, deverão constituir o pilar dos territórios rurais face à globalização, ao invés do individualismo considerado como um factor tradicional do mundo agrícola”, conclui.

Leia a entrevista exclusiva de Joana Rossa ao Green Savers.

Qual a importância de ter participado na Academia Compal para o futuro da sua carreira?

De extrema importância, não só pela transmissão e partilha de conhecimentos mas, essencialmente, pela possibilidade de testemunharmos e experienciarmos contextos reais de produções frutícolas. Falo de pomares com as frutas que eu planeio produzir, que me permitiram reconhecer as maiores fragilidades e potencialidades do projecto e, desta forma, assumir um comportamento de prevenção e antecipação.

Qual a lição mais importante que aprendeu durante esta formação?

Diria que o respeito pela agricultura. Contrariamente ao que poderemos pensar, nem todos podemos ser agricultores. É uma actividade de elevado risco e significativa incerteza, altamente exigente do ponto de vista físico e emocional. Desta forma, quando se resolve optar pela agricultura, devemos fazê-lo em consciência, devemos assumir esta actividade como um projecto de vida, sentirmo-nos motivados e com vocação, pois, em face da sua complexidade, a agricultura não pode servir como alternativa a outras opções e projectos de futuro.

Teve de mudar alguma parte do seu plano inicial de empreendedorismo como consequência dos novos conhecimentos adquiridos na formação?

Não houve alteração dos pressupostos iniciais, não obstante a constante optimização das directrizes estabelecidas, decorrente da aquisição de novos conhecimentos.

Que conselhos daria aos próximos participantes na academia do Centro de Frutologia da Compal?

Em primeira instância que acreditem em si próprios e certamente chegará um dia em que os outros não terão outra escolha senão acreditar em vocês mesmos. Depois que absorvam tudo o que puderem das sessões teóricas e práticas da Academia, pois são, sem qualquer de dúvida, uma excelente fonte de conhecimentos, necessária à execução do projecto final e mais importante ainda, à sua concretização.

Qual o grande desafio da Compal para as próximas edições da Academia?

Continuar a rejuvenescer, dignificar e projectar a agricultura nacional, possibilitando que os jovens procurem oportunidades de empreendedorismo no sector primário, proporcionando a renovação do seu potencial.

Este é o primeiro de três artigos que o Green Savers irá desenvolver sobre os vencedores da bolsa do Centro de Frutologia Compal (CFC), apresentado em Novembro passado e que atribuiu €20 mil aos três jovens fruticultores cujos projectos mais se destacaram na primeira edição da Academia CFC.

 





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