Ocean Bottle: as garrafas feitas com plástico dos Oceanos que viajam de Cascais para o Reino Unido

Os supermercados Tesco são o único local do mundo onde pode comprar a Ecover, a primeira garrafa feita a partir de desperdício de plástico pescado do mar e que é desenvolvida em Cascais, na fábrica da portuguesa Logoplaste.

O projecto da Ocean Bottle, recentemente premiado na edição de 2014 do Green Project Awards, já foi amplamente notícias em Portugal e além-fronteiras, mas nem por isso o pioneirismo da Logopaste deve ser esquecido. “A Ocean Bottle é muito mais que uma simples garrafa, é um importante passo no aumento da consciência do problema do plástico nos oceanos”, explicou ao Green Savers Carlos Rego, design manager & biomimicry specialist da Logoplaste.

Segundo o responsável, o principal objectivo do projecto passa por “criar condições para uma limpeza sistemática da enorme quantidade de desperdícios de plástico existentes no mar”. “A sua redução contribuirá para a criação de melhres condições para a preservação saudável da vida dos ecossistemas marinhos, tendo também um impacto directo para nós, humanos, ao reduzir o nível de microplásticos nos alimentos e outros produtos”, continuou.

As primeiras 16.000 unidades de Ocean Bottle foram colocadas à venda a 19 de Maio e esgotaram numa semana. As garrafas são vendidas com detergente para a loiça cuja composição, à base de eucalipto, obedece integralmente aos princípios da química verde.

A garrafa, que pode ser reutilizada, é uma edição especial que complementa a gama de produtos regulares da Ecover. “O objectivo é lançar periodicamente novas edições”, explicou Carlos Rego. Leia a entrevista do Green Savers ao responsável da Oceano Bootle.

A Ocean Bottle é composta por 10% de plástico do oceano. Por que razão a percentagem de plástico do oceano não é maior? É possível que fazê-lo, numa versão actualizada do produto?

A recolha e processamento do plástico recolhido no oceano para utilização como matéria-prima é um projecto pioneiro, cuja operação é ainda complexa e demorada. À medida que o processo for sendo optimizado, o nosso objectivo passa por incorpor uma maior percentagem de plástico do Oceano.

Como surgiu a ideia para este produto e quanto tempo foi preciso para que as garrafas chegassem ao mercado?

A história deste projecto iniciou-se muito antes da primeira garrafa chegar à cozinha. O plástico nos oceanos é o maior problema de que a maioria das pessoas nunca ouviu falar (ainda), tem um impacto ambiental devastador e tem estado nas nossas casas e nos nossos pratos há algum tempo através das micropartículas de plástico que se decompõem no oceano.

A pergunta que nos colocámos foi a de como enfrentar um problema que afecta todas as principais massas de água do nosso planeta? A resposta foi…criando a Ocean Bottle.

O design da garrafa foi também totalmente concebido utilizando a metodologia de Biomimicry Thinking, inspirando-se nos princípios estruturais dos esqueletos de Diatoms e Radiolarians, optimizando a performance mecânica da embalagem utilizando menos 20% de material. Estes organismos são uma grande parte do Plankton e Zooplankton que é a base da cadeia alimentar dos ecossistemas marinhos. A poluição global e a contaminação pelo plástico tem um impacto dramático nas suas populações, comprometendo o equilíbrio global do ecossistema.

O projecto demorou aproximadamente ano e meio a ser implementado.

Como asseguram a matéria-prima vinda do mar, para os 10% de plástico reciclado do oceano?

Esta garrafa representa a união entre várias entidades e empresas do mundo da conservação marinha e embalagem. Usando barcos de pesca existentes apetrechados com uma nova tecnologia, o projecto Waste Free Oceans Catch of the day possibilita uma fonte extra de rendimento aos pescadores europeus por recolherem entre duas a oito toneladas de desperdícios de plástico por captura, que são processados e transformados em plástico pela Closed Loop e utilizados para produzir novas garrafas na Logoplaste.

Qual a importância da reciclagem e, especificamente, a reciclagem de produtos encontrados no oceano, para o futuro das embalagens?

Antes de este projecto existir, havia a crença generalizada de que o plástico do Oceanos era inútil e não podia ser utilizado como matéria-prima. A Ocean Bottle demonstrou que o impossível é afinal possível. A utilização de plástico do oceano reduz a utilização de matéria-prima proveniente de fontes não renováveis e renováveis que têm um impacto na desflorestação e exploração agrícolas.

O sucesso deste produto permitiu desmistificar a viabilidade da utilização do plástico do oceano como matéria-prima e será replicado pela Ecover, noutros produtos. O aumento da rede de pescadores, instalações de reciclagem e fabricantes, e a facilitação do acesso a este material pelos fabricantes permitirá a sua utilização na produção doutros produtos.

Que tipo de vantagem comercial ganha a Logoplaste com a aposta na inovação em sustentabilidade, em relação a concorrentes do mercado das embalagens?

A Logoplaste através da sua divisão de pesquisa de desenvolvimento, o Logoplaste Innovation Lab, foi a primeira empresa do ramo da embalagem no mundo a integrar a metodologia de Biomimicry Thinking na concepção dos seus produtos, colocando-a no centro do seu processo de inovação.
Esta aposta no desenvolvimento sustentável de embalagens trouxe-nos uma efectiva vantagem competitiva relativamente à nossa concorrência, contribuindo decisivamente para nos tornar parceiros estratégicos de muitas da maiores empresas globais de bens de consumo.

Este artigo faz parte de um vasto trabalho sobre os vencedores do Green Project Awards 2014. Todos os vencedores da iniciativa portuguesa podem ser consultados neste lin