Opinião GS: Um ano depois de Fukushima, a Alemanha está cada vez menos refém do nuclear



“A transição para uma nova política energética é o projecto do século para os alemães. É a atitude certa e é fazível. Mas, em termos de implementação, grande parte do trabalho ainda está por fazer. O calendário é apertado e a expansão da rede o maior dos desafios. E os outros países estão a observar muito de perto a forma como a Alemanha está a trabalhar”.

A frase pertence a Michael Süß, CEO da Siemens para a área da energia e membro do conselho de gestão, e revela bem a forma cautelosa como a Alemanha reagiu a um acontecimento que, directamente, não a atingiu: a tragédia de Fukushima.

A distância entre Tóquio e Berlim são 8.900 quilómetros mas, nesse 11 de Março de 2011, encurtou-se drasticamente. Ao som das sirenes que acordaram Fukushima e as cidades contíguas, outras sirenes – menos literais – tocaram a 9.000 quilómetros de distância.

A razão não era para menos. Poucos meses antes, a chanceler Merkel tinha renovado o compromisso nuclear alemão. Depois do desastre japonês, o Governo alemão mandou fechar provisoriamente – e depois permanentemente – oito centrais nucleares.

Semanas depois, outra boa nova. Até 2022, a Alemanha vai abandonar a energia nuclear e encerrar as suas 18 centrais nucleares. O projecto, como revelou Michael Süß, é desafiante e todas as outras potências nucleares estão de olho no País. É que os objectivos são mesmo complexos: a nova política energética alemã prevê o corte das emissões de CO2 em 80% até 2050 e aumentar a quota das renováveis, até à mesma data, em 80%.

Dentro de dez anos, um total de 20 GW de capacidade suportada, actualmente, pelas centrais nucleares, terá de ser gerada através de outra fonte. O volume de investimentos também será brutal: €20 mil milhões (R$ 47,3 mil milhões) por ano.

Para completar esta transição energética alemã, a cereja no topo do bolo: em Setembro de 2011, a Siemens anunciou que deixaria de colaborar com a energia nuclear. Estavam lançados os dados.

Entretanto, os primeiros resultados da nova política energética alemã já são visíveis. A quota da energia nuclear caiu dos 22 para os 18%, devido sobretudo ao fechamento das oito centrais nucleares. A percentagem das renováveis no mix energético, por outro lado, subiu dos 16% em 2010 para os 20% em 2011, impulsionada pelo solar fotovoltaico.

São boas notícias, mas ainda há muitos desafios. Esta transição tem de ser inteligente e baseada na eficiência energética e de recursos e na inovação tecnológica. E há vários riscos: o burocrático, relacionado com o tempo previsto para planeamento e aprovações; o da falta de capacidade para investimento; e o da competitividade da indústria alemã, caso os custos energéticos sejam demasiado elevados.

Leia o relatório da Siemens sobre a transição energética alemã e vejas as histórias que a multinacional partilhou no seu site sobre o mesmo tema.





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