Ousar tomar a ação pela Conservação da Natureza. Do sonho nasce a obra!



Por: Alexandra Azevedo, Presidente da Direção Nacional da Quercus – ANCN

Apesar da “tenra” idade da nossa espécie, à escala da vida do planeta, somos a espécie com maior capacidade de transformação das paisagens e de adaptação às mais diversas condições geoclimáticas, desde os desertos frios aos desertos quentes, habitam populações humanas que se conseguiram adaptar.

O engenho e arte da nossa espécie é na verdade notável. Resultado da evolução biológica em permanente interação com o ambiente natural.

Esta interação tem gerado alterações, das mais subtis às mais profundas, na medida da expansão das atividades humanas. Mesmo no Paleolítico podem ter ocorrido impactos ao ponto da extinção de espécies pela ação humana, como se coloca na teoria da extinção dos grandes herbívoros.

Com a sofisticação das sociedades humanas e a aceleração da degradação ambiental no pós-revolução industrial, começam a tomar forma políticas públicas de conservação na Natureza, sendo um marco incontornável a criação do primeiro parque nacional no mundo, o parque nacional Yellowstone, em 1872.

Por cá, com a expansão marítima iniciado no século XV, enquanto o país assiste a intensa desflorestação para a construção naval, sobretudo carvalhos, que pertencem ao grupo botânico dos Quercus, surgem também medidas para preservar outras espécies do mesmo grupo dos Quercus, os sobreiros e as azinheiras, essencialmente pela valorização da cortiça e do fruto, a bolota. Vários séculos mais tarde surge então o primeiro Parque Nacional da Peneda-Gerês, em 1971.

Chegados à década de 1980, a sociedade portuguesa mobiliza-se, de uma forma particular, para a ação concreta no terreno com projetos inovadores para a recuperação de habitats e de espécies ameaçadas, substituindo-se muitas vezes à função do Estado.

Em 1985, é fundada a Quercus, e logo nos seus primeiros anos da vida a associação é pioneira em vários projetos de conservação da natureza, como a criação de zonas de alimentação de abutres, de uma Rede de Microreservas (constituída por pequenas áreas protegidas com uma gestão dirigida à conservação de habitats, fauna, comunidades vegetais e endemismos botânicos raros ou ameaçados) e a aquisição de diversas parcelas de terrenos importantes em termos de conservação da natureza na área do Tejo Internacional, que culminariam com a aquisição do Monte Barata, em 1992, situado nas freguesias de Monforte da Beira e Malpica do Tejo, concelho de Castelo Branco. Passos estes relevantes para a criação, anos mais tarde, do Parque Natural do Tejo Internacional, a 18 de agosto de 2000.

Nessa década de 90, a Quercus dá também passos significativos na construção e funcionamento de 3 centros de recuperação de animais selvagens (CRAS): CRASSA (em Santo André), CERAS (em Castelo Branco) e CRASM (junto à Serra de Montejunto), que entram em funcionamento em 1996, 1999 e 2007, respetivamente.

No início do milénio, concretamente em 2003, surge o projeto Linhas Elétricas, cujo principal objetivo foi elaborar lista de linhas aéreas de Alta e Média Tensão localizadas em áreas classificadas, e correção com medidas anti-colisão e anti- electrocução, no âmbito de parceria com o grupo EDP, o então ICN (Instituto de Conservação da Natureza) e outra ONGA, a SPEA, formalizado através do primeiro Protocolo Avifauna. Em 2014 junta-se uma terceira ONGA, a LPN.

Em 2008 surgem também projetos relevantes para a reflorestação de espécies autóctones. O projeto Criar Bosques; o projeto GreenCork, em que através do apoio da Amorim e do Continente, foi implementado um sistema inovador de recolha de recolha de rolhas de cortiça, aliado a educação ambiental pelo programa GreenCork Escolas/IPSS, que por sua vez permite o financiamento do projeto Floresta Comum, que disponibiliza todos os anos uma bolsa de plantas autóctones, produzidas nos viveiros do ICNF, e que conta também com o apoio institucional da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Quarenta anos depois todos estes projetos continuam em execução e em permanente evolução.

Novos projetos têm vindo a emergir com foco nos contextos urbanos, promovendo o envolvimento de autarquias locais e comunidades escolares. O ano de 2024 marca, assim, a criação da primeira Rede de Escolas Amigas dos Polinizadores, no âmbito do projeto S.O.S. Polinizadores, desenvolvido em parceria com a Jerónimo Martins, bem como o arranque da iniciativa Jardins Biodiversos Colaborativos.

Estes quarenta anos são feitos de sonhos de muitas pessoas que ousaram tomar a ação.

Somos Natureza, por isso a conservação da Natureza, além de um dever ético, é uma questão de sobrevivência.






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