Papagaios-do-mar perdem capacidade de voar durante dois meses todos os anos



Os papagaios-do-mar, do género Fratercula, perdem a capacidade para voar durante dois meses todos os anos, durante o período em que trocam de penas, conhecido como muda. Este espaço de tempo é duas vezes superior ao que inicialmente nos dizia a ciência e pode tornar essas aves marinhas vulneráveis a tempestades, cada vez mais frequentes devido ao efeito do aquecimento global.

A descoberta foi feita por investigadores do Reino Unido e da Noruega, e divulgada num artigo publicado esta semana na revista ‘Ecology and Evolution’.

Colocando dispositivos de geolocalização em quatro papagaios-do-mar, ou fradinho (Fratercula arctica), uma espécie que ocorre exclusivamente no Atlântico Norte, os cientistas descobriram que essas aves ficam retidas na superfície do mar, enquanto trocam de penas, e dizem-nos que a localização e o período durante o qual acontece essa muda “há muito que tem sido um mistério para os cientistas, porque ocorre quando os papagaios-do-mar estão muito distantes da terra e fora de vista”.

Jamie Hendrick Darby, principal autor do artigo, explica que “esta muda ocorre quando os papagaios-do-mar estão no Atlântico, e quando as condições meteorológicas podem ser perigosas para uma ave que não voa”. Por isso, escrevem no artigo, “devem escolher cuidadosamente a altura e o local onde fazem a muda de penas para coincidir com uma disponibilidade suficiente de alimento”, que no mar alto pode ser um problema.

Esta espécie está atualmente em declínio, classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como ‘vulnerável’ a nível global, mas ‘em perigo’ na Europa. Os papagaios-do-mar “frequentemente aparecem mortos nas nossas costas depois de fenómenos meteorológicos severos”, diz Darby.

Papagaio-do-mar (Fratercula arctica)

Afirmam os autores que “apesar de ser uma amostra pequena”, os resultados deste estudo permitem compreender melhor um período de vulnerabilidade fora da época de reprodução “de uma espécie ameaçada”. Durante a muda das penas, os papagaios-do-mar “estão particularmente vulneráveis a impactos negativos da reduzida disponibilidade de presas, da poluição da superfície [do mar] e do aumento da ocorrência de tempestades”.

Os investigadores dizem ainda que algumas aves dessa espécie podem mesmo mudar as penas duas vezes por ano, aumentando a sua exposição aos perigos climáticos.

“Acredita-se que os ciclones de inverno no Atlântico Norte serão mais frequentes e mais intensos devido às alterações climáticas”, diz Darby, pelo que uma melhor compreensão do fenómeno de troca de penas do papagaios-do-mar permitirá criar e implementar estratégias de conservação que protejam esta espécie ameaçada dos perigos representados pelas ações humanas, incluindo as alterações climáticas, e como estão a provocar o declínio das populações destas aves.





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