Pneumologistas do São João avaliam exposição ambiental dos utentes



Pneumologistas do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) querem avaliar a exposição ambiental dos utentes porque a humidade e o bolor podem ser “causas silenciosas” de doenças como a Pneumonite de Hipersensibilidade, patologia referenciada para transplante pulmonar.

“Quando o diabo mora dentro de casa” podia ser o resumo da investigação que os pneumologistas David Barros Coelho e António Morais estão a desenvolver e que visa avaliar a exposição ambiental dos utentes seguidos no CHUSJ.

Em causa está identificar os fungos aos quais os doentes estão expostos, fungos que são recolhidos diretamente nas habitações.

Em entrevista à agência Lusa, no Dia Mundial de Sensibilização para a Fibrose Pulmonar, David Barros Coelho descreveu que “se nota dificuldade por parte do utente e do clínico em identificar sinais de exposição a fungos”, mas os resultados preliminares desta investigação apontam que em 37% dos casos foi encontrada exposição domiciliária apesar de não ter sido reportada pelo doente em consulta.

Acresce que cerca de 75% dos doentes com Pneumonite de Hipersensibilidade são expostos a níveis tóxicos de fungos no seu domicílio.

“A Pneumonite de Hipersensibilidade é uma doença que, se virmos a população geral é pouco comum, contudo dentro das doenças respiratórias, principalmente nas relacionadas com fibrose pulmonar, é uma das mais comuns. No nosso hospital o peso da doença está plasmado no facto de ser a doença referenciada para transplante pulmonar”, referiu David Barros Coelho.

O clínico descreveu que há causas “relativamente fáceis de identificar”, como a exposição a aves que acontece, por exemplo, com quem se dedica à columbofilia e criação de pombos, muitas vezes não se sabe a que é que está exposto o doente.

Segundo o clínico, as características do clima português, nomeadamente a Norte, um clima quente e húmido, também podem constituir condições favoráveis ao aumento do vapor de água que faz com que haja mais fungos no ar, principalmente dentro de casa, no entanto, frisou: “É necessário investigar”.

“Há um estudo da União Europeia que diz que Portugal é o segundo país que mais reporta a presença de humidade dentro de casa. Podemos tratar a doença, podemos dar imunossupressores ao doente, podemos dar antifibróticos, mas a pedra basilar é eliminar a exposição ao que está a causar a doença”, resumiu.

A Pneumonite de Hipersensibilidade é uma doença que se caracteriza por inflamação das vias respiratórias.

Esta patologia tem um impacto muito negativo na qualidade de vida, estando associada a uma elevada morbilidade e mortalidade e é considerada uma doença com elevados custos para o doente e para o sistema de saúde.

À Lusa, David Barros Coelho explicou além de analisarem o ambiente interno e externo e as características do edifício e mobiliário, ou seja observarem as manchas de humidade nas paredes, os bolores ou a condensação e a descoloração, a investigação incluiu a recolha de uma amostra de ar, isto com o objetivo de quantificar e identificar os fungos presentes nesse ambiente.

“Tentamos chegar ao inimigo invisível. Recolhemos uma amostra de ar, geralmente no quarto dos doentes – estamos a falar de doentes com 60 e 70 anos que têm alguma falta de ar – quantificámos e os resultados foram muitos expressivos. Quase três quartos dos doentes tinham exposição a níveis tóxicos de fungos”, descreveu.

Com esta investigação o CHUSJ quer sensibilizar a população, sobretudo os doentes de risco e fazer a sociedade e os decisores refletir nas medidas a tomar.

“Um dos objetivos é, em termos de saúde pública, refletirmos sobre o que está a causar esta doença e tentar alterar isso”, disse David Barros Coelho.

A avaliação ambiental domiciliária completa está a ser realizada pelo investigador em Saúde Pública, João Rufo.

Os pneumologistas alertam que a inalação persistente dos antigénios ambientais causa sintomas de dispneia, tosse ou cansaço, bem como alterações estruturais irreversíveis, podendo haver progressão para a fibrose pulmonar.

Os investigadores também alertam que doenças crónicas, como a asma ou a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), podem ficar agravadas e exigir mais terapêutica ou mesmo desencadear outros problemas pulmonares.





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