Poderá a nossa água estar a tornar os medicamentos menos eficazes?



Um documento publicado pela Shawview Consulting, apresenta recomendações destinadas a abordar o papel fundamental da água na prevenção de um cenário em que infeções simples podem voltar a ser mortais e certas cirurgias podem tornar-se demasiado arriscadas.

Segundo a mesma fonte, a Austrália está a enfrentar uma ameaça crescente de resistência antimicrobiana (RAM), em que as bactérias e outros microrganismos são capazes de sobreviver na presença de medicamentos destinados a eliminá-los, como os antibióticos, em grande parte devido a uma exposição excessiva, geralmente por uso indevido ou excessivo.

A RAM compromete a eficácia dos medicamentos e torna as infeções mais difíceis de tratar.

Um aspeto frequentemente negligenciado da RAM é o seu aparecimento e propagação no ambiente, nomeadamente nas fontes de água. Os contaminantes antimicrobianos provenientes de instalações de cuidados de saúde, esgotos domésticos, atividades agrícolas e escoamento de animais têm todos o potencial de se infiltrarem em cursos de água naturais.

No entanto, não existe uma monitorização nacional dos agentes antimicrobianos nas águas subterrâneas, nas águas pluviais urbanas ou na água potável.

O documento apresenta quatro recomendações temáticas e inclui ações específicas que devem ser realizadas, tais como:

* O estabelecimento de normas nacionais que definam os níveis máximos admissíveis de agentes antimicrobianos.
* O desenvolvimento de sistemas de monitorização para rastrear os agentes antimicrobianos nos sistemas de água.
* A nomeação de um Emissário para a RAM na Austrália, que aumentaria a sensibilização e promoveria ações sobre questões de RAM a nível local e internacional.

Coletivamente, as recomendações destacam iniciativas de sensibilização, liderança, envolvimento e monitorização. Foram formuladas através de discussões rigorosas realizadas durante uma mesa redonda do governo e da indústria em Camberra, no início deste ano. O encontro reuniu mais de 20 organizações do governo, da indústria, do meio académico e do sector sem fins lucrativos.

RAM é uma das 10 principais ameaças à saúde pública

Os debates dos participantes centraram-se na RAM e na sua presença no ambiente, nomeadamente nos sistemas hídricos, e nas implicações para a saúde humana e animal, o ambiente e a indústria.

Brendan Shaw, Diretor da Shawview Consulting, afirmou que o Livro Branco realça a importância da colaboração entre os diferentes sectores da indústria e com os decisores políticos, refletindo o amplo impacto que a RAM está a ter nas indústrias e comunidades de todo o mundo.

“À medida que as taxas de RAM aumentam em todo o mundo, estabelecer um intercâmbio bidirecional de informações sobre a RAM no nosso ambiente é fundamental para o sucesso futuro. Trata-se de uma estratégia fundamental para reduzir o seu impacto”, disse Shaw.

O Professor Branwen Morgan, líder da Missão de Minimização da Resistência Antimicrobiana da CSIRO, um dos patrocinadores da mesa redonda, disse que a RAM é designada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das 10 principais ameaças à saúde pública que a humanidade enfrenta.

“A água contribui para a propagação da resistência antimicrobiana, uma vez que contém uma vasta gama de bactérias e contaminantes que podem acelerar o desenvolvimento e a disseminação da RAM”, explicou Morgan, acrescentando que “os sectores que utilizam antimicrobianos ou lidam com resíduos que contêm antimicrobianos podem estar a ter, inadvertidamente, um impacto ambiental maior do que o esperado. É crucial que os riscos potenciais sejam compreendidos e atenuados”.





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