Portugal em 18.º lugar no ranking europeu da ‘transição verde’. Destaca-se na Energia mas é dos piores nos Resíduos e na proteção da Natureza



Portugal está na 18.ª posição na lista dos 29 países da Europa que têm o melhor desempenho ambiental. A avaliação é apresentada no Índice da Transição Verde criado pela consultora Oliver Wyman.

O estudo, apresentado na manhã desta quarta-feira, compara os vários países quanto ao seu progresso na transição para sociedades em maior harmonia com o ambiente e, de acordo com os autores, pretende também “identificar as melhores práticas que servem de referência para aqueles que querem avançar com esta questão crítica”, da transição verde.

E avaliação do desempenho ambiental é feita em sete categorias: Energia, Natureza, Indústria Transformadora, Economia, Resíduos, Edifícios e Transporte.

Assim, numa escala de zero a 100, os Países Baixos surgem em primeiro lugar, com 57 pontos, devido ao desempenho ao nível energético e dos resíduos, seguidos de perto pela Dinamarca, Estónia, Áustria, França, Reino Unido e Alemanha. Em 18.º lugar, temos Portugal, com 48 pontos, um valor que se alinha com a média os 29 países europeus em estudo, embora abaixo dos 53 pontos da Europa ocidental.

Nos últimos cinco lugares da lista, temos o Chipre (27), a Bulgária (34), a Lituânia (39), a Grécia (40) e a Polónia (42).

A análise permitiu perceber que os países com o PIB per capita mais elevado tendem a ter um melhor desempenho ambiental, mas há exceções, como é o caso da Noruega, do Luxemburgo e da Irlanda, com 53, 50 e 48 pontos, respetivamente.

No outro lado da medalha, há países que, apesar de não terem o PIB mais elevado, demonstram um bom desempenho ambiental, como a Estónia, a Itália e a Eslovénia, com 55, 52 e 51 pontos, respetivamente.

“Os países mais ricos têm mais dinheiro para investir na transição energética e tendem a apresentar um melhor desempenho ambiental”, explica Sofia Cruz, consultora da Oliver Wyman Ibéria.

Mas é na categoria da Energia, que considera o peso da renováveis na produção total de eletricidade e a “dimensão de projetos em tecnologias de transição energética”, que Portugal se destaca, ocupando a 5.ª posição com 39 pontos, atrás dos Países Baixos (52), da Dinamarca (52), da Noruega (50) e do Reino Unido (48).

O estudo demonstra que este destaque de Portugal na energia se deve ao facto de o país ter cinco vezes mais projetos de hidrogénio verde do que a média dos países europeus em 2021, por estar no Top 5 em projetos de armazenamento relacionados com baterias e entre os 10 melhores quanto ao peso das renováveis e dos biocombustíveis na produção de eletricidade 60% face à media de 45% europeia).

Relativamente a projetos de captura e armazenamento de carbono, que era um dos indicadores desta categoria, Portugal ainda não tem nenhum, mas o estudo revela que essa é uma realidade partilhada por cerca de metade dos países abrangidos pela análise.

Na Economia, Portugal fica em 15.ª posição, por em 2020 ter emitido 308 toneladas de gases com efeito de estufa (GEE) por milhão de euros, abaixo da média europeia de 346 Tn GEE/Milhão EUR, mas bem acima dos valores dos países, como a Alemanha, a Estónia, a Suécia e a Finlândia, que dominam a tabela (entre as 180 e 110 Tn GEE/Milhão EUR).

Ainda assim, a posição mediana de Portugal é conseguida pela redução do consumo de energia primária em 10% entre 2015 e 2020, face à redução média europeia de 6%, e ao investimento público em projetos de Investigação e Desenvolvimento especialmente dedicados ao ambiente (15% acima da média europeia).

“Há um esforço de melhoria claramente visível”, diz Sofia Cruz.

Na categoria da Indústria Transformadora, é em 18.º lugar que surge Portugal, com 57 pontos e abaixo da média europeia de 64 pontos e da média da Europa ocidental de 75 pontos. Esta colocação na metade inferior deve-se à intensidade das emissões de GEE produzidas pelo setor, com uma média de 660 toneladas de dióxido de carbono por milhão de euros. No Top 10 desta categoria, nenhum dos países ultrapassa as 400 toneladas.

Os resultados sugerem que países em que o peso dos setores altamente emissões e intensivos em energia seja maior, serão também mais elevadas as emissões de GEE, uma correlação que, diz Sofia Cruz, “não é surpreendente”.

Na categoria de Transportes, Portugal está n 18.ª posição, embora se coloque em 4.ª posição no indicador de intensidade de emissões por passageiro e em 5.ª posição no indicador de emissões médias de dióxido de carbono de automóveis novos.

Quanto aos Edifícios, Portugal chega ao 2.º lugar, com 78 pontos, sobretudo devido ao recurso a energias renováveis para aquecimento doméstico e a um menor consumo de eletricidade per capita face à média europeia.

No que toca aos Resíduos, Portugal cai para a 27.ª posição, com 27 pontos, com uma produção de resíduos per capita 22% acima da média europeia, por termos uma taxa de circularidade de 2% contra mais de 20% de países como os Países Baixos, da Bélgica, a França e a Itália.

Na categoria de Natureza, Portugal volta a ficar perto do fim do ranking, na 25.ª posição, com “resultados fracos em todos os indicadores”, sendo que no que toca às áreas protegidas o país fica mesmo no último lugar, com apena 3% de áreas protegidas face à média europeia de 17%, aos 25%-35% dos países que lideram neste campo.

Sobre a agricultura biológica, a exploração da água e a poluição atmosférica, Portugal mantém-se em linha com a média europeia.

Rodrigo Pinto Ribeiro, responsável da Oliver Wyman em Portugal, explicou que “tem havido pressão sobre as empresas e sobre os governos para adotarem políticas e práticas” que permitam reduzir os impactos das economias sobre o ambiente, sobre os ecossistemas e a biodiversidade.

E salienta que se tem assistido a uma aceleração desse movimento de transição verde, que se já tinha observado anteriormente, mas que foi impulsionado fortemente pela crise energética provocada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia.

De um modo geral, os resultados demonstram que os países da Escandinávia são os que apresentam os melhores desempenhos ambientais, seguidos pela Europa ocidental, pelos Bálticos, pela Europa oriental e, por fim, pela Europa do Sul. Ainda assim, é possível verificar que, ao passo que os Estados escandinavos estão na linha da frente nas categorias de Economia e Conservação da Natureza, a Europa ocidental arremata a liderança nas áreas da Indústria Transformadora e da Gestão de Resíduos, sendo que a Europa do Sul “não se destaca em nenhum dos segmentos”, assinala a Oliver Wyman em comunicado.

Pepa Chiarri, responsável da secção de Clima e Sustentabilidade da Oliver Wyman, explica que “dadas as enormes necessidades de capital, parece plausível que os países mais ricos estejam mais avançados em termos de sustentabilidade ambiental” e que “de facto, quando se analisa a relação entre a riqueza de um país, medida pelo PIB per capita, e o seu desempenho no Índice de Transição Verde (GTI), a conclusão é clara: os países mais ricos, com os meios financeiros para investir na transição, tendem a ter uma pontuação mais alta do que os países com um desempenho económico mais baixo”.

Contudo, reconhece que identificam-se exceções que fogem à regra, sublinhando que “há países ricos que têm pior desempenho, como a Noruega, Irlanda ou Luxemburgo; e há países que têm melhor desempenho em relação ao seu PIB per capita, como a Estónia, Itália e Eslovénia”.

O estudo revelou também que, embora a Europa esteja na vanguarda da transição verde a nível global, “84% das empresas europeias ainda não estabeleceram um objetivo de base científica (Science Based Targets initiative, SBTi) para alcançar esta limitação do aquecimento global” e 77% delas não definiram ainda qualquer objetivo SBTi.

Nesse sentido, para atingir a meta da redução de emissões de carbono em 55%, em comparação com os níveis de 1990 e até ao ano de 2030, a Comissão Europeia estima que são necessários investimentos na ordem dos 1.040 mil milhões de euros por ano no continente europeu, o que significa mais 360 mil milhões de euros por ano do que atualmente se investe em tecnologias focadas na neutralidade carbónica”, escrevem os relatores, apontando que “até ao ano de 2020, já se tinha atingido uma redução de emissões de 33,34%”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...