Portugal: escolas primárias reutilizadas como clubes de boxe ou casas mortuárias
Na última década, 4.430 escolas primárias portuguesas fecharam as portas, vítimas da reorganização escolar, poucos alunos ou más condições dos edifícios. Desde 2005, avança o jornal i, este número chegou aos 3.720, bem mais do que o actual número de estabelecimentos de ensino do primeiro ciclo a funcionar em Portugal: 2.330.
Muitas destas instalações ainda estão em condições de serem utilizadas. Algumas são vendidas, arrendadas ou cedidas pelas autarquias. É o caso da escola primária de Achete, em Santarém, que fechou as portas em 2005 e é agora a sede do Clube de Vespas das Comeiras.
“Era uma casa degradada e agora é um espaço recuperado, que trouxe um pouco de vida à aldeia”, explicou ao i uma fonte da junta de freguesia. Esta escola esteve fechada sete anos.
As escolas primárias agora reutilizadas e reciclagem fazem parte do Plano dos Centenários, uma construção de escolas primárias em larga escala que decorreu entre os anos 40 e anos 60, em Portugal.
Com arquitectura-tipo de Raul Lino e Rogério de Azevedo, terão sido construídas, durante este período de 20 anos, mais de 7.000 escolas primárias, de Norte a Sul de Portugal. Muitas delas estão agora desactivadas, como era o caso da escola de Mámua, em Viana do Castelo, que serve agora de espaço de treino para os atletas de boxe do Neves Futebol Clube.
“O objectivo é manter as associações com sedes próprias e movimentar muita gente com a garantia de que o espaço é ocupado e preservado”, explica o presidente da junta, Porfírio Neves Afonso.
Em Lousada, a antiga escola primária serve agora a população idosa, no Centro de Movimento Sénior da Associação de Desenvolvimento Despertar. A escola primária de Barbudos, em Ponte de Lima, foi inaugurada em 1961 e está agora em obras para dar lugar a habitação de duas famílias carenciadas da freguesia de Santa Cruz.
Em Salvaterra de Magos, por outro lado, a antiga escola será em breve um quartel da GNR, enquanto na freguesia de Carnide, Lisboa, a antiga escola terá um hostel, uma creche, um pavilhão de apoio aos vários clubes, salas polivalentes para a população e uma outra sala que terá as memórias do bairro.
O caso mais caricato é o da escola da freguesia de Barroças e Taias, em Monção, que será agora uma casa mortuária. As obras arrancaram em Setembro de 2012, mas ainda não há data de conclusão.
Quer comprar uma escola?
Segundo o jornal i, há escolas que estão à venda na internet ou hasta pública. Os preços variam entre os €1.000 e €200 mil, consoante o estado: grandes, pequenas, restauradas ou abandonadas. Em Longos Vales, Monção, há uma escola primária com 500 metros quadrados que está à venda por €75 mil.
Em Grândola, por pouco mais de €1.000/mês pode arrendar-se uma escola primária antiga. E na Madeira, um edifício destes com 900 metros quadrados custa €145 mil.
Também há leilões. Em Leiria, estão por vender duas das cinco escolas leiloadas no início de Junho, mas as outras três foram arrematadas por €185 mil. Em Évora também há três escolas sem dono e, segundo a câmara, há interessados.