Portugal na liderança no combate às Alterações climáticas



Numa época onde o número de notícias pessimistas relacionadas com as alterações climáticas é superior ao número de notícias otimistas, neste nosso país à beira mar plantado temos de nos orgulhar do objetivo de nos tornarmos neutros em carbono em 2050, versado no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050) e apresentado a 4 de Dezembro pelo Governo.

Significa isto que, em 2050, o total de emissões de gases com efeito de estufa em Portugal será igual ao capturado (essencialmente pela floresta), alcançando um balanço nulo e, assim, a neutralidade carbónica. Este objetivo é suportado por um trabalho técnico robusto e sério, fruto de um longo processo entre o Governo, a academia e stakeholders das áreas da energia, transportes, agricultura, florestas, água, resíduos e indústria.

Se 2050 parece ser um ano longínquo (o objetivo é 100% de eletricidade renovável e 100% de transportes sem emissões), olhemos para o que se vai passar na próxima década, cujos objetivos são refletidos também no Plano Nacional de Energia e Clima 2030 a apresentar a Bruxelas ainda este ano.

Para 2030 temos de alcançar 80% de eletricidade de fontes renováveis (atualmente temos 54%), integrar 30% de fontes de energias renováveis nos transportes (atualmente temos 7%), reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 50% face a 2005 e atingir 35% na eficiência energética.

Estes objetivos serão atingíveis? A resposta é afirmativa. Os números apresentados no RNC 2050 demonstram o seu carácter desafiante, mas indicam também que são objetivos técnica e financeiramente exequíveis, usando tecnologias já existentes à data de hoje, sem pôr em causa a competitividade da economia.

A solução passa essencialmente por descarbonizar a produção de eletricidade e os transportes, eletrificar processos da indústria, aumentar a área florestal e reduzir as emissões da agricultura, juntamente com uma aposta forte na eficiência energética.

Certamente que estes aspetos não se concretizam de um dia para o outro nem sem a contribuição de todos os portugueses, sejam eles individuais, empresas ou organismos públicos. Daí a importância de perspetivar o futuro a médio/longo prazo de forma a orientar políticas públicas corretas em direção aos objetivos propostos.

Há dez anos ninguém diria que seria possível ter quatro dias consecutivos em que o nosso consumo de eletricidade fosse exclusivamente de fontes renováveis, mas assim foi, em março de 2018.

Numa época em que estamos num ponto de não retorno ao nível dos efeitos das alterações climáticas, este desígnio é, provavelmente, o mais prioritário da nossa sociedade atualmente.

Poucos temas têm trazido tanto reconhecimento internacional a Portugal como o nosso percurso recente nas energias renováveis, e o RNC 2050 demonstra que o nosso país pode distinguir-se pela positiva de tantos outros países, trazendo vantagens competitivas que atraem investimento num mundo cada vez mais globalizado.

Neste contexto, é expectável que os investimentos em renováveis (solar fotovoltaico e repowering eólico) da próxima década contribuam para a redução do preço da eletricidade, fruto dos custos cada vez baixos destas tecnologias.

Está dado o tiro de partida para um país que se coloca na linha da frente no combate às alterações climáticas. Cabe agora à sociedade abraçar este desígnio e ao poder político criar as condições e os sinais corretos para que seja possível caminhar para este novo paradigma com benefícios para todos.

 

João Wang de Abreu é Mestre em Engenharia do Ambiente, Gestão e Sistemas Ambientais pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, com uma pós-graduação em Energia pelo MIT Portugal. Fez carreira na Deloitte Consultores e trabalhou na área da energia solar fotovoltaica em Nova Iorque e em fundos europeus na Comissão Europeia, em Bruxelas. Fez parte da equipa do Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social em 2017 e é atualmente consultor de energia.

 





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