Produtores de frutas e legumes pedem modernização de rega e reservas de água
A associação portuguesa que representa os produtores de frutas e legumes pede ao Governo obras de modernização nos perímetros de rega e investimentos em reservas de água para o setor continuar a crescer e não colapsar.
“Temos potencial de crescimento mas precisamos de obras de modernização, principalmente, dos perímetros de rega e dos aproveitamentos hidroagrícolas”, disse à Lusa o presidente da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal, em Madrid, onde decorre até quinta-feira a feira internacional Fruit Atrraction.
Gonçalo Santos Andrade afirmou que os produtores têm feito “inúmeros investimentos, a nível de rega inteligente, de utilização adequada de água” e onde há perdas “é até a água chegar aos agricultores”, porque a distribuição, “na grande maioria dos perímetros de rega” é feita com “obras com mais de 50 anos, com perdas na distribuição de 30 a 50 por cento, e têm de ser feitos investimentos, que são investimentos grandes mas estruturantes”.
“E depois também há que investir muito em novas reservas de água. Neste momento, só estamos a aproveitar 20% da precipitação anual. Precisamos de quase duplicar esse aproveitamento porque estamos a desperdiçar água que corre para o mar e podíamos fazer reservas estratégicas para depois utilizar em períodos sem precipitação”, acrescentou o presidente da Portugal Fresh, que realçou que a “agricultura não gasta água, utiliza água para produzir alimentos”.
Para Gonçalo Santos Andrade, “houve uma oportunidade muito grande” a nível dos fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e há agora outra com “reforços de investimentos dos próximos quadros comunitários” e devia “haver uma estratégia muito forte a nível das reservas de água”.
“O setor foi muito pouco ouvido e não tem tido essa força porque o setor agroalimentar não tem sido uma prioridade para o Governo”, defendeu o presidente da Portugal Fresh, que explicou que, no âmbito do PRR, houve “medidas esporádicas”, como projetos para o Algarve, destinados a novas fontes de água em transvase e dessalinização, que são “muito importantes para o setor, mas é preciso algo de mais fundo”.
As exportações portuguesas de frutas, legumes e flores aumentaram 16% no primeiro semestre do ano, comparando com o mesmo período de 2021, alcançando os 939 milhões de euros e as 805 mil toneladas, segundo dados da Portugal Fresh, que tem 87 sócios, entre empresas e organizações de produtores, que representam mais de 4.500 produtores portugueses.
Quando a associação foi criada, em 2010, o setor valia 2.200 milhões de euros e exportava 780 milhões, números que passaram, em 2021, para 3.841 milhões de euros e 1.731 milhões, respetivamente. Em 2010, o setor exportava um pouco mais de 30% da produção e atualmente vende para fora de Portugal entre 45 e 50 por cento do que produz, segundo a média dos últimos anos, destacou Gonçalo Santo Andrade.
“A ambição é chegar aos 2.500 milhões de euros em exportações até 2030, mas se não tivermos água e modernização dos perímetros de rega, o que vai acontecer é que o setor vai colapsar e precisamos desta ajuda porque temos um enorme potencial”, afirmou.
“Se Portugal não aproveitar esta oportunidade de conseguir fazer crescer ainda mais o setor, as outras latitudes sul da Europa – Espanha, França, Itália- vão aproveitar porque há consumo, há procura dos nossos produtos”, acrescentou Gonçalo Santos Andrade, que sublinhou que 81% das exportações portuguesas são para os países da União Europeia, com destaque para Espanha (29% do total de vendas para o estrangeiro), seguindo-se França, Países Baixos e Alemanha.
Portugal não consegue competir em termos de quantidade com outros produtores, como Espanha, mas há características no clima que permitem, por exemplo, que seja o único país da Europa que consegue produzir pequenos frutos, como as framboesas, durante todas as semanas do ano, além de haver reconhecimento da qualidade.
“Temos uma procura enorme e é importante resolver esta questão da água”, insistiu Gonçalo Santos Andrade, que acrescentou outras razões para haver uma resposta a este problema, de ordem ambiental.
Só uma resposta aos problemas do regadio poderá fixar agricultores em territórios menos povoados ou pelo menos não os levar a abandonar essas áreas (porque o setor agroalimentar depende do acesso à água), o que será essencial para prevenir incêndios florestais e a biodiversidade, defendeu.
Além desta questão estrutural, o setor enfrenta atualmente “enormes desafios”, após “dois anos e meio de pandemia, uma seca extrema” e a guerra na Ucrânia, “que veio inflacionar muito os custos de produção”, sem que haja uma compensação para os produtores a nível dos preços que os distribuidores (como os supermercados) estão a pagar aos agricultores, disse Gonçalo Santos Andrade, reproduzindo a maior preocupação manifestada à Lusa por empresas portuguesas presentes na feira de Madrid.
Segundo a Portugal Fresh, o valor por quilo da produção, no primeiro semestre, “apenas cresceu 1,3%”, o que “não faz face ao aumento de custos”, relacionados com a energia, combustíveis ou fertilizantes, sendo necessária, nas palavras de Gonçalo Santos Andrade, “muita solidariedade em toda a cadeia agroalimentar”.
A Fruit Attraction é uma das maiores feiras do setor agroalimentar na Europa, estando este ano representados 130 países, em 1.800 expositores. São esperados 90.000 visitantes.
A representação portuguesa integra 46 empresas e organizações de produtores.