Projeto internacional com investigadores portugueses aposta em IA para proteger tubarões ameaçados
O projeto EMREP (Integrated Electronic Monitoring and Reporting (iEMR) software application for the commercial fishing fleet in Portugal) tem como objetivo “dotar a indústria da pesca de tecnologia moderna e avançada de registo, reporte e gestão de dados, contribuindo para a Economia Azul nacional e para a preservação dos ecossistemas marinhos”.
Financiado pelos EEA Grants no âmbito do Programa Crescimento Azul, o projeto EMREP é uma parceria entre as empresas tecnológicas OLSPS e Imenco AS e a Universidade do Algarve.
Usando embarcações de pesca de arrasto a operar no Algarve para testar a metodologia desenvolvida, o projeto envolveu a adaptação do software de registo de dados OLRAC da OLSPS International, a instalação de câmaras de vigilância da Imenco em locais estratégicos nas embarcações de pesca e, a recolha e análise, por parte de investigadores da Universidade do Algarve, de amostras de tubarões e raias capturados acessoriamente, revela o EMREP em comunicado.
Segundo a mesma fonte, o software desenvolvido pela OLSPS International permitiu que, ao longo do período de teste, os pescadores e cientistas registassem todos os dados associados aos esforços de pesca (condições climatéricas, condições da água, posição de capturas, material utilizado, descrição de capturas, etc.).
Para além disso, o projeto serviu para testar o uso de um software de inteligência artificial desenvolvido com o objetivo de “validar de forma autónoma os registos feitos pelos pescadores, tecnologia que poderá no futuro ser usada para, entre outras coisas, garantir que as quantidades e espécies reportadas são as efetivamente capturadas”.
A colaboração com cientistas da Universidade do Algarve “permitiu analisar indicadores de stress nos tubarões e raias capturados e, avaliar a sua condição e suas hipóteses de sobrevivência após a sua devolução ao mar”, sublinha o EMREP.
De todos os animais amostrados, apenas 5% apresentavam hipóteses de sobreviver após sua devolução ao mar
Segundo a mesma fonte, ao longo de 12 viagens, a equipa recolheu amostras de mais de 3.400 tubarões e raias capturados de forma acessória pela pesca de arrasto de crustáceos. “Os nossos dados indicam que de todos os animais amostrados, apenas 5% apresentavam hipóteses de sobreviver após sua devolução ao mar”, explica Sofia Graça Aranha, aluna de Doutoramento da Universidade do Algarve, citada no comunicado.
A pesca de arrasto é “reconhecidamente pouco seletiva, mas é também responsável por uma fatia considerável do pescado nacional e, é por isso essencial que se desenvolvam técnicas e tecnologias que permitam tornar esta pesca menos impactante e mais eficiente”. “Os resultados das análises de sobrevivência dos animais capturados realçam a importância do trabalho que a OLSPS International tem vindo a desenvolver ao longo do projeto. Como a maioria dos animais capturados acaba por morrer a melhor forma de proteger as suas populações é dotar cientistas e indústria com ferramentas que permitam proteger estas espécies, minimizando as suas capturas”, sublinhou Amos Barkai, CEO da OLSPS International.
A médio-longo prazo, armadores e pescadores poderão utilizar os dados registados para escolher em que zonas focar os esforços de pesca, e desta forma aumentarem o rendimento dos seus esforços ao mesmo tempo que reduzem as capturas acessórias de espécies indesejadas e vulneráveis, como é o caso de tubarões e raias de profundidade, acrescenta o comunicado.
O projeto teve início em 2019 e, depois de anos de trabalho, viagens de mar, testes de laboratório e incontáveis horas de programação, a equipa vai poder finalmente partilhar os principais resultados obtidos dia 12, pelas 14h, no campus de Gambelas da Universidade do Algarve.