Redescoberta em Madagáscar espécie de ave que estava ‘desaparecida’ há 24 anos



Desde 1999 que os cientistas não encontravam uma pequena ave canora de garganta amarelada e corpo cor de azeitona. Trata-se da espécie Crossleyia tenebrosa, um pequeno passeriforme com cerca de 15 centímetros de comprimento que costuma saltitar pelo solo das florestas tropicais de Madagáscar, o único local do mundo onde foi observada.

Depois de 24 anos ‘desaparecida’, a espécie Crossleyia tenebrosa voltou a ser avistada nas florestas tropicais de Madagáscar.
Foto: John C Mittermeier / American Bird Conservancy

No entanto, em dezembro do ano passado, uma expedição ornitológica, liderada pela organização The Peregrine Fund, veio afastar os receios de que essa ave tivesse sido extinta, depois de terem redescoberto a C. tenebrosa nas florestas densas e húmidas da península de Masoala, na região nordeste da ilha que de situa a cerca de 400 quilómetros da África continental. Em janeiro deste ano, a ave voltou a ser avistada, dessa feita em Andapa, cidade no nordeste de Madagáscar.

Quando, no final de 2022, Lily-Arison Rene de Roland, da The Peregrine Fund, e a sua equipa rumaram a essa ilha africana, tiveram de conduzir durante mais de 40 horas e de caminhar sobre montanhas altas por meio dia até conseguirem chegar ao local onde a C. tenebrosa tinha sido avistada pela última vez em 1999, na cidade de Andapa.

Quando lá chegaram depararam-se com uma floresta altamente degradada, amplamente convertida em plantações de baunilha, apesar de essa ser uma área que, teoricamente, está protegida por lei.

Enquanto Lily-Arison Rene de Roland esquadrinhava Andapa em busca da ave esquiva, outra equipa, liderada por Armand Benjara e Yverlin Pruvot, da mesma organização, palmilhavam a península de Masoala, onde, por fim, conseguiram observá-la no dia 22 de dezembro do ano passado.

Mas no primeiro dia de 2023, também Lily-Arison Rene de Roland e a sua equipa conseguiram avistar a ave, perto de um rio ladeado por rochas, saltitando por entre a densa vegetação rasteira que cobria o solo da floresta como um tapete. Nesse dia, apenas capturaram um fotografia do animal, para poderem confirmar que realmente se tratava da ave que procuravam. No dia seguinte, conseguiram apanhar um exemplar para poderem observá-lo de mais perto e fazer medições, após o que voltaram a libertá-lo, ileso.

Os cientistas concluíram que a C. tenebrosa preferia passar a maior parte do seu tempo perto de cursos de água, procurando insetos e outras presas na vegetação húmida.

John Mittermeier, da American Bird Conservancy, fez parte da equipa de Lily-Arison Rene de Roland, e acredita que a razão pela qual essa espécie tem ‘escapado’ aos olhares dos ornitólogos se prende com o facto de a ave preferir essas áreas pertos dos rios.

“A observação de aves nas florestas tropicais trata-se sobretudo de escutar os chamamentos e, por isso, naturalmente tende-se a evitar passar muito tempo perto de rios borbulhantes onde não é possível ouvir nada”, explica.

Por ter estado ‘desaparecida’ há 24 anos, levantando suspeitas de que poderia estar extinta, a C. tenebrosa faz parte da lista das 10 aves mais procuradas do projeto ‘Search for Lost Birds’, uma colaboração entre a Re:wild, a American Bird Conservancy e a BirdLife International, sendo que, esta última, aponta que essa espécie tem sido frequentemente confundida com outra com a qual é fisicamente muito parecida, a C. zosterops.

Agora, os especialistas da The Peregrine Fund vão explorar outras partes de Madagáscar numa tentativa de encontrar novos indivíduos da C. tenebrosa, para poderem perceber melhor a sua distribuição pela ilha, a sua ecologia e o seu estado de conservação. No entanto, dizem, as florestas húmidas da região nordeste de Madagáscar estão gravemente degradadas, pelo que não seria surpreendente se percebessem que essa espécie estivesse realmente sob a ameaça da extinção.





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