Redução de quotas na pesca contradiz melhoria dos recursos, alerta ANOP
A Associação Nacional das Organizações da Pesca do Cerco contestou hoje a redução de quotas pela Comissão Europeia para algumas pescarias, quando o estado desses recursos melhorou nas águas ocidentais, em contraponto com o Mediterrâneo, Báltico e Mar do Norte.
“Parece-me que há uma contradição clara, quando a União Europeia reconhece que o estado dos recursos está bom e melhorou incomparavelmente nas águas ocidentais do sul do que no Mediterrâneo, Mar Báltico e Mar do Norte e o setor começa a duvidar destas propostas supostamente baseadas em estudos científicos feridos de um excesso de precaução, que têm como único objetivo pescar cada vez menos”, afirmou Humberto Jorge, presidente da Associação Nacional das Organizações da Pesca (ANOP) Cerco à agência Lusa.
Quanto ao aumento anunciado do total admissível de capturas (TAC) para o carapau, a espécie sujeita a quotas pela União Europeia (UE) mais capturada pelas empresas associadas, o dirigente da ANOP considerou que o “aumento é importante, porque [a pescaria] pode servir como moeda de troca com outras espécies”.
Contudo, por ser uma espécie em relação à qual os pescadores já capturaram menos do que o permitido nos anos anteriores, por não ser “comercialmente viável”, “este aumento não vai aliviar a pressão criada pela redução de quotas para outras espécies”.
O mesmo não se passa com o tamboril, cujo “aumento não é acompanhado pela melhoria do estado do recurso”, assim como a pescada, “cujo corte não se percebe quando houve melhoria do recurso”.
Os cortes previstos para a pescada, linguado e lagostim “são extremamente graves, porque vão pressionar a nossa pesca costeira que, em 2020 e 2021, já pescou menos e teve um menor esforço de pesca também devido à pandemia” de covid-19, defendeu, desabafando que, com as quotas estabelecidas, “não sabe como os pescadores vão fazer para sobreviver”.
Humberto Jorge incitou que “é imprescindível as autoridades portuguesas duvidarem da base científica das propostas europeias”.
O ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, disse hoje, em Bruxelas, que o resultado das negociações das possibilidades de pesca para 2022 “comprova o esforço feito para a sustentabilidade”.
Portugal vai pescar menos linguado, lagostim e pescada em 2022, mas os cortes nas capturas ficam aquém do proposto pela Comissão Europeia há um mês, segundo um comunicado do ministro do Mar, Serrão Santos.
Para 2022, há uma redução de 8% face ao total admissível de capturas (TAC) de pescada, para as 2.284 toneladas, face a este ano, em vez do corte de 18% que tinha sido proposto por Bruxelas.
No que respeita ao linguado, a redução no TAC é de 5%, para as 407 toneladas, em vez de 15%, e as capturas de lagostim foram reduzidas na mesma percentagem, em vez de 16%, num total de 266 toneladas.
Por seu lado, o carapau, tamboril e areeiro viram os seus TAC para o próximo ano aumentar face a 2021.
Os ministros das Pescas da União Europeia (UE) chegaram hoje a um acordo sobre os totais admissíveis de capturas (TAC) e respetiva repartição de quotas para 2022, em águas do Atlântico, Mediterrâneo, Mar do Norte e Mar Negro, após dois dias de negociações.