Reintrodução do lince ibérico tem impacto na abundância e comportamento das raposas



Um estudo realizado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em parceria com o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, põe em evidência os efeitos da reintrodução do lince-ibérico (Lynx pardinus) no Vale do Guadiana sobre a população de raposas.

Usando foto-armadilhagem e radiosseguimento, o estudo, conduzido ao longo de cinco anos, identificou os efeitos da nova população de linces sobre as raposas, bem como os mecanismos de coocorrência, avança o ICNF em comunicado.

Segundo a mesma fonte, os resultados revelam um “decréscimo contínuo da abundância de raposa nos territórios ocupados por linces, apesar de esta abundância ter grandes flutuações, com aumentos no outono devido à incorporação de juvenis nas populações. Estimou-se que, ao longo dos cinco anos a população de raposa decresceu cerca de três vezes”.

O estabelecimento de uma nova população de um predador de topo, como o lince-ibérico, “pode causar ajustamentos demográficos e ecológicos na comunidade de predadores generalistas, quer ao nível do comportamento, quer ao nível da abundância”, explica o ICNF. Estes efeitos potenciais, acrescenta, “poderão ser mais evidentes na população de raposas, dado que é o carnívoro mais abundante e com uma alimentação similar à do lince”. Neste contexto, estudaram-se os potenciais efeitos da presença de lince-ibérico ao nível da segregação do espaço, padrões de atividade diária e abundância das populações de raposa.

A competição direta, através da agressão, é um processo que já foi documentado entre linces e raposas. Considerando a maior massa muscular dos linces “é expectável que estes sejam dominantes, contudo, as raposas poderão adaptar-se, reduzindo a sua abundância e/ou ajustando os seus padrões de atividade e o uso do habitat, de forma a evitar os linces”, sublinha a mesma fonte.

Apesar de não terem sido detetados efeitos nos padrões de atividade diária, verificou-se que as raposas “evidenciam uma maior probabilidade de ocorrência em locais onde o lince está ausente e que têm uma tendência em evitar áreas que foram recentemente utilizadas por linces, embora a presença de lince, por si só, não seja suficiente para inibir a ocorrência de raposas”.

O regresso do lince-ibérico a novos territórios “não deverá provocar uma extinção local nas populações de raposa, mas sim uma redução da sua abundância e a adoção de estratégias defensivas que permitam a co-ocorrência” A manutenção de uma densidade adequada de raposas “é importante para o equilíbrio do ecossistema, tendo em conta o papel deste predador enquanto regulador de populações de roedores”, diz ainda o ICNF.

Este estudo também enfatiza que em áreas de ocorrência e de reprodução de lince-ibérico, as técnicas de controlo de predadores, efetuadas nos processos de gestão de coutos de caça, “poderão não ser necessárias, tendo em conta o efeito regulador da espécie sobre potenciais competidores”. Esta análise “é concordante com outras conduzidas em Espanha, demonstrando que a reintrodução do lince-ibérico, ao reduzir a abundância de outros predadores, contribuiu para uma redução de cerca de 56% na taxa de predação sobre coelho-bravo, acabando por se revelar benéfica para a gestão cinegética”, conclui.





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