REPORTAGEM: JMJ: 10 perguntas e uma hora para conhecer melhor os oceanos
Dez perguntas e uma hora foram ontem suficientes para que mais de uma centena de pessoas, de todos os lugares do mundo, tenham ficado sensibilizada para a conservação e proteção dos oceanos. David Santos pelo menos acha que sim.
Educador marinho no Oceanário de Lisboa, a especializar-se em alterações climáticas e políticas de desenvolvimento sustentável, David Santos é o principal mentor de uma conferência diária sobre oceanos, destinada aos participantes em Lisboa na Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Sala cheia todos os dias e prevendo que na sexta-feira, última conferência, assim volte a ser, o responsável disse à Lusa que o tempo de duração do “encontro” é suficiente para que a assistência, maioritariamente jovem, fique a conhecer melhor os oceanos, a forma de os preservar e proteger, e ter também a noção de que as pessoas fazem parte da natureza, e que está na suas mãos proteger o planeta.
É assim que acaba a conferência de sensibilização, chamada de “Planeta Oceano – Pelo Cuidado da Casa Comum”, quando David Santos lança para a assistência uma grande bola que simboliza o planeta, que os jovens terão de atirar uns para os outros sem nunca a deixar cair.
O Auditório Mar da Palha tem capacidade para cerca de 120 pessoas mas David Santos não sabe de onde chegam. “Oiço muito o espanhol”, contou, para logo acrescentar que também ouve outras línguas, ainda que na conferência todos se expressam em inglês. É em inglês que se dinamiza o encontro, com a hora a passar depressa, com palmas e gargalhadas pelo meio.
A conversa, que é também um desafio à reflexão, centra-se em 10 perguntas iniciais, de respostas múltiplas, mas as soluções só vão sendo conhecidas depois, enquanto se fala da importância dos oceanos para o planeta, da sua biodiversidade, da origem da vida, dos ecossistemas marinhos ou do plástico.
“Falamos da origem dos oceanos, da diversidade, alertamos para o facto de ser muito ameaçado, porque antigamente se pensava que por o oceano ser tão grande nada lhe podia fazer mal, falamos do que podemos fazer”.
E é “muito positivo”, sobretudo porque quase metade das pessoas talvez não tenha tanto conhecimento. Prova-o o facto de quase nunca acertarem em três das perguntas iniciais: Porque é que o mar é azul, qual o lixo mais comum encontrado nas praias portuguesas e que percentagem do oxigénio é produzida pelo oceano.
E porque é que a água do mar é salgada? Uma resposta da plateia tem direito a uma salva de palmas. E quais os primeiros seres vivos a aparecerem no mar? A resposta é dada no écran gigante, no palco, por onde vão também passando pequenos filmes.
Participativos, os jovens levantam-se e fazem mímica, num jogo promovido por David Santos, riem-se e batem palmas com frequência. É assim também na entrada do Oceanário, que aproveitam para conhecer, mas é assim ainda, por estes dias, na zona do Parque das Nações, a fazer lembrar a mesma data há 25 anos, quando também circulavam à beira rio milhares de visitantes da “Expo-98”.
No auditório ainda se espantam quando na resposta às perguntas sabem que em 2018 só quatro pessoas morreram no mundo por ataques de tubarões. E indignam-se quando David Santos diz que em cada ano são mortos 100 milhões de tubarões, a esmagadora maioria apenas por causa das barbatanas, para sopa. E exultam com as imagens dos golfinhos que surgem a seguir. E espantam-se de novo com o tamanho da baleia azul, com o facto de os oceanos produzirem oxigénio.
“Acham que sabemos tudo sobre o mar?”, os jovens dizem que não, voltam a sorrir com as imagens do oceano profundo, tiradas por robôs, onde a luz não chega. Como se tiram essas fotografias? pergunta um. E quando percebe que se usa “flash” volta com outra pergunta, essa quase um lamento: “Quando vão a essa profundidade e metem luz cegam os animais todos?”.
E lamento também pelas imagens das ilhas de plástico, pelo lixo nas praias.
David Santos disse que é preciso informar, porque só conhecendo se pode agir. E da assistência surgem outras propostas para proteger os oceanos, não ter filhos e parar de fumar duas delas (além das óbvias, como produzir menos lixo).
Sabem agora que as pontas de cigarro constituem o lixo mais comum das praias portuguesas.
Mas sabem também que o mar é azul porque a cor azul é última a ser absorvida pela água, e que os oceanos produzem mais de metade do oxigénio da Terra.
Lisboa foi a cidade escolhida pelo Papa Francisco para a edição deste ano da Jornada Mundial da Juventude, que termina no domingo, sendo esperadas mais de um milhão de pessoas.
Além das cerimónias em que participa o Papa há centenas de outras, entre cerimónias religiosas a eventos musicais ou outros, como a conferência de hoje no Oceanário.