Sabe quem vai gerir a conservação de crocodilos? A Gucci.
Há algo de irónico ou sarcástico na notícia de que a Kering, empresa que detém marcas como Gucci, Balenciaga, Yves Saint Laurent ou Alexander McQueen, vai juntar-se ao International Trade Center para financiar a gestão sustentável dos crocodilos do Nilo, em Madagáscar.
Segundo o Internacional Trade Center – uma parceria entre a Organização Mundial de Comércio e as Nações Unidas – há muito que as populações de crocodilos do Nilo de Madagáscar estão a decrescer ou não são devidamente monitorizadas. Ainda assim, não deixa de criar alguma perplexidade o facto de a empresa escolhida para “ajudar” a monitorizar a gestão de crocodilos seja a Kering, que tem um claro interesse na pele dos animais: ela acaba nas suas malas, cintos, carteiras e sapatos de luxo.
O crocodilo do Nilo é o maior dos crocodilos africanos, podendo crescer até 680 quilos e chegar aos seis metros de tamanho.
Segundo o Quartz, existe uma “oportunidade para ITC e Kering” pesquisarem e manterem “um comércio mais sustentável e melhor gerido de peles de crocodilos do Nilo de Madagáscar”.
Em parte, explica o agregador, é uma forma de balancear a conservação do animal com a oportunidade económica que os répteis oferecem aos locais. “Para muitas das pessoas mais pobres de Madagáscar, recolher e vender ovos de crocodilo é um rendimento importante”, explica o Quartz.
Em Fevereiro de 2013, a LMVH, concorrente da Kering, comprou uma quinta de crocodilos australiana por €2 milhões (R$ 6 milhões). Agora, a Kering vai financiar a gestão sustentável dos crocodilos. Tendo em conta que a pele de animais exóticos representa 10% do total de vendas das marcas de luxo, talvez a forma como a conservação destes animais está a ser gerida não seja a mais indicada, não acha?
Foto: Rob Bulmahn / Creative Commons