Subida do nível do mar pode afetar recursos alimentares disponíveis nos estuários



A subida do nível do mar pode provocar a “marinização” dos estuários e potenciar a entrada de espécies invasoras que afetem os recursos alimentares das populações, conclui um estudo do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar).

Em comunicado, o centro de investigação da Universidade do Porto destaca que o estudo divulgado hoje, realizado em parceria com a Universidade Federal da Bahia, no Brasil, revela uma “análise preocupante” sobre o impacto do aumento do nível do mar nos estuários e as eventuais consequências da intrusão da água salgada nos ecossistemas costeiros.

Publicado na revista Ocean & Coastal Management, o estudo analisou outros artigos científicos para desenvolver um “modelo preditivo” e antecipar a posição da intrusão salina em estuários face ao provável cenário de aumento do nível do mar nos próximos anos.

Recorrendo a modelos matemáticos, os investigadores concluíram que a combinação do avanço do mar com a seca extrema pode originar “uma penetração de salinidade amplificada” nos estuários, uma vez que não só é maior o avanço do mar, como diminui a descarga dos rios.

“A elevação do nível do mar favorece a entrada da água mais salgada, enquanto a descarga impede que a água salgada avance demasiado rio acima. Rios com pouca descarga naturalmente tornam-se mais salgados durante a maré cheia”, esclarece, citado no comunicado, o primeiro autor do artigo, Yuri Costa.

Com o aumento de eventos extremos “crescem os desafios associados a grandes variações de salinidade nos estuários tanto para a biodiversidade como para as populações e economia local”.

Em cenários de elevação do nível do mar, a penetração da salinidade tenderá a intensificar-se e a evaporação das águas pode aumentar a salinidade dos estuários, “causando a marinização do estuário”, fenómeno que já está a ser registado em alguns locais.

Neste processo, espécies marinhas que não costumam habitar aquele ecossistema passam a colonizá-lo, uma adaptação que, segundo os investigadores, “aparentemente não parece ter consequências, mas esconde outros problemas”.

“Isto abre o precedente para espécies oportunistas, como as espécies invasoras que, reconhecidamente, causam desequilíbrio ambiental”, refere Yuri Costa.

Em causa poderá estar a chegada de espécies de peixes invasoras aos estuários que, por serem mais tolerantes a situações de ‘stress’ do que as espécies nativas, que ainda se estão a adaptar às novas condições, causam uma “situação de desequilíbrio”.

“Neste caso, as espécies invasoras podem reduzir drasticamente os recursos alimentares das espécies nativas, competindo com elas e reduzindo-as até à sua extinção nesses locais”, observa Yuri Costa.

Outro fator “preocupante”, destaca o investigador, é que estas espécies podem afetar os recursos alimentares, muitas vezes de subsistência, das populações humanas envolventes que não têm essas espécies invasoras como alvo de captura e apenas percebem o declínio das espécies que tradicionalmente costumavam capturar.

Também citada no comunicado, a investigadora Irene Martins salienta que a utilização de ferramentas numéricas é “de extrema importância para a adoção de medidas adequadas à preservação e conservação de sistemas costeiros, como estuários e rias”.

“O estudo alerta para a importância da adoção de medidas de mitigação e adaptação para minimizar os impactos do aumento do nível do mar nos estuários, com indicação de ferramentas de previsão úteis para gestores públicos e decisores no planeamento de medidas de adaptação”, observa.





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