Substituição de lâmpadas foi a medida mais adotada para defender os valores ambientais



A substituição de lâmpadas pelas de baixo consumo, a redução da utilização de produtos descartáveis, a diminuição e separação de resíduos e levar a marmita para o trabalho foram as medidas mais adotadas pelos portugueses para defender os valores ambientais.

Esta foi uma das conclusões do III Grande Inquérito Nacional de Sustentabilidade promovido pela Missão Continente, em parceria com o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, que inquiriu 1.520 portugueses maiores de 18 anos sobre temas como sustentabilidade ambiental, as dimensões do bem-estar, práticas de consumo e estilos de vida e expectativas para o futuro do país.

Tanto a substituição de lâmpadas (63%) como o reaproveitamento de refeições para levar comida para o trabalho (41%) estão relacionadas com poupança, mas a segunda medida mais indicada pelos inquiridos com vista à proteção do ambiente, a redução do consumo de produtos descartáveis (49%), como os plásticos, está associada a campanhas públicas de incentivo a esses comportamentos, como aconteceu com as lâmpadas, sublinhou Luísa Schmidt, uma das coordenadoras do estudo, a par de Mónica Truninger.

“Nestes casos, houve medidas políticas e comunicação nesse sentido. As políticas públicas são fundamentais para mudarmos os procedimentos”, acentuou Luísa Schmidt, em declarações à agência Lusa.

A investigadora deu também o exemplo do isolamento e conforto das casas, mencionado por 26% dos inquiridos, outra medida associada a políticas de apoio a essa transição, com a comparticipação de verbas do Fundo Ambiental.

“Já existe essa sensibilidade de que o conforto térmico implica menos gasto de energia”, enfatizou a académica.

A coordenadora do inquérito alertou ainda para o aumento do consumo de produtos alimentares de origem biológica, hábito já instalado em cerca de um quarto da população, assim como para a redução do consumo de carne, no caso dos mais velhos a pensarem na saúde, os mais novos por questões ambientais e por estarem mais sensibilizados para os processos de produção.

A transição na mobilidade é o domínio em que, pessoalmente, foram tomadas menos medidas e se “destaca pela negativa”.

A compra de um carro elétrico ou a redução das viagens de avião surgem com percentagens residuais. No caso da aquisição de um automóvel elétrico, são os inquiridos que declaram maiores rendimentos quem mais adere a este tipo de ações.

Luísa Schmidt alertou serem 68% os inquiridos a utilizarem o automóvel privado muito frequentemente, no país europeu em que, segundo o Eurostat, as pessoas menos utilizam os transportes públicos e, no âmbito do inquérito, apenas 23% mencionam recorrer com frequência a essa forma de mobilidade.

Segundo a investigadora, foram “anos e anos em que não se promoveu o transporte público” e os utilizadores não recorrem a essa solução por uma questão de “eficiência em termos de horários, de tempo, frequência e de conforto”, preconizando a implementação de “políticas públicas” que promovam a utilização dos transportes coletivos “eficientes”.

“Se nós quisermos mudanças, seja na energia, seja na mobilidade, seja na relação com os resíduos, seja na questão alimentar, é preciso criar políticas públicas, processos comunicacionais, é preciso interagir diretamente com as populações”, preconizou Luísa Schmidt.

A investigadora enfatizou que, face aos dois inquéritos anteriores, “a questão ambiental surge muito mais consolidada e, entre os resultados mais surpreendentes, surgem mudanças de hábitos “que já se instalaram”, como levar a marmita para o trabalho, a educação ser vista como central no investimento a ser feito no país e ter sido registada uma diminuição da frequência do consumo de carne, enquanto aumentou a importância das refeições de base vegetal.

O estudo analisou também perfis de consumo que poderão estar mais alinhados numa trajetória para a sustentabilidade e o mais preponderante é o “constrangido”, que compra a pensar na poupança e na gestão de um orçamento limitado, embora “já seja significativo” o consumidor, mais jovem e mais escolarizado, que faz escolhas orientado por questões ambientais e é menos consumista, tal como o preocupado em reaproveitar materiais, ter a própria horta ou produzir a própria energia solar.

A apresentação dos resultados do inquérito está agendada para hoje, às 14:30, no auditório do ICS da Universidade de Lisboa.





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