Sucesso migratório das borboletas-monarcas pode depender das manchas brancas nas suas asas
As borboletas-monarcas (Danaus plexippus) são conhecidas por fazerem uma das mais longas migrações do mundo dos insetos, de vários milhares de quilómetros, entre os locais de invernada e de reprodução. Esta espécie distingue-se pelas suas asas de tons alaranjados e pelas pequenas manchas brancas que salpicam os seus contornos.
Foi precisamente sobre essas manchas que uma equipa de cientistas se debruçou e chegou à conclusão de que quanto mais manchas brancas uma borboleta tem, maior será a probabilidade de chegar ao destino de invernada.
Andrew Davis, investigador da Universidade de Geórgia, nos Estados Unidos da América (EUA), e um dos autores do estudo divulgado esta semana na ‘PLOS One’, explica que a equipa queria perceber como é que um animal tão pequeno como a borboleta-monarca era capaz de percorrer distâncias tão longas durante as suas migrações.
O cientista confessa que o grupo iniciou a investigação convicto de que as borboletas com asas mais escuras, com menos manchas brancas, eram as que teriam maior hipótese de perfazer a migração com sucesso, “porque as superfícies escuras podem melhorar a eficiência de voo”. O pigmento mais escuro nas asas absorve mais radiação solar, criando um ‘bolsa’ de ar quente em torno das asas que confere maior aerodinamismo, uma vez que o ar quente causa menos resistência do que o ar mais frio.
Contudo, “encontrámos o oposto”, afirma o investigador.
Através da análise das asas de cerca de 400 borboletas recolhidas em diversos pontos da sua rota migratória entre os EUA e o México, os investigadores descobriram que as asas das que chegavam ao destino final tinham áreas escuras 3% inferiores e áreas brancas 3% superiores às que ficavam pelo caminho.
Comparando também as asas das monarcas com espécies geneticamente próximas, mas que não migram, como a Danaus cleophile e a Danaus gilippus berenice, os investigadores verificaram que a espécie migratória tem mais manchas brancas do que as outras.
Os autores acreditam que as manchas brancas permitem às monarcas contrabalançar o calor absorvido pelas zonas mais escuras das asas, evitando o sobreaquecimento, e ajudam a criar um efeito de ‘túnel’ em torno do animal, através de variações térmicas, que confere um maior aerodinamismo a este inseto e, assim, uma maior eficiência de voo e um menor dispêndio energético.
“A quantidade de energia solar que as monarcas recebem durante as suas viagens é enorme, especialmente porque voam com as asas abertas durante a maior parte do tempo”, explica Davis. “Depois de milhares de anos a fazerem esta migração, aprenderam a capitalizar sobre a luz solar para melhorarem a sua eficiência aérea.”
Contudo, com um planeta cada vez mais quente devido ao efeito de estufa provocado e intensificado pelas emissões de gases poluentes das atividades humanas, é possível que essa vantagem aerodinâmica venha a ser perdida, o que seria, segundo o cientista, mais um fator que dificulta as migrações desta espécie.