Taxas de carbono, eletrificação, captura e redistribuição: Como manter o aquecimento global abaixo dos 1,5 graus
Apesar de a comunidade científica alertar que se está a fechar rapidamente a janela de oportunidade para agir e impedir que o aquecimento do planeta exceda o limite dos 1,5 graus Celsius até 2100, face ao período industrial, nem tudo estará já perdido.
De acordo com o projeto europeu NAVIGATE, coordenado pelo Instituto de Potsdam para a Investigação dos Impactos Climáticos (PIK), a meta dos 1,5 graus com a qual os governos do mundo se comprometeram em 2015 quando adotaram o Acordo de Paris, é possível acelerar a descarbonização das sociedades.
Como? Num relatório divulgado recentemente, os investigadores do NAVIGATE consideram que o setor energético, uma das maiores fontes de emissões de gases com efeito de estufa a nível global, deve ser rapidamente transformado. Isso passará pela descarbonização da produção de eletricidade com o aumento da contribuição das renováveis e o abandono progressivo dos combustíveis fósseis, pela eletrificação da indústria, dos transportes e dos edifícios, pela implementação e difusão de tecnologias de captura, armazenamento e remoção de carbono e pelo aumento da eficiência energética em todos os setores, incluindo da habitação.
Os especialistas argumentam que a transição energética da indústria, com mais energia limpa, mais eletrificação e com um maior enfoque na circularidade, especialmente em setores altamente poluentes, como o do aço, poderá cortar entre 55% e 90% as emissões até 2050.
Mas o que precisa e pode ser feito não se limita ao setor energético. Os investigadores consideram que o uso e ocupação dos solos é também uma área na qual se deve intervir, especialmente para reduzir emissões de gases com efeito de estufa além do dióxido de carbono, como o metano, para proteger e restaurar florestas e turfeiras e para reduzir o desperdício alimentar, incluindo mudanças de dieta.
Os autores acreditam que a implementação “imediata e simultânea” de todas essas políticas poderá “acelerar substancialmente a ação [climática]” e ajudar a alcançar a meta dos 1,5 graus até ao final do século.
No que toca à transição energética, vários têm sido os alertas feitos sobre o risco de, na corrida para alcançar um mundo ‘net-zero’, ou neutro em emissões de carbono, os mais vulneráveis e os que têm menos recursos financeiros poderão ficar para trás. Neste relatório, os investigadores argumentam que a taxação das emissões de carbono e a redistribuição das receitas daí resultantes para quem mais precisa de apoios ajudará a evitar que se agrave o fosso de desigualdade entre os que têm mais e os que têm menos.
Como tal, defende o PIK, “uma transição global para a neutralidade carbónica feita devidamente não só salvaguarda o clima, como também protege contra o agravamento da desigualdade global”. E acrescenta que num mundo entre os 1,5 e os dois graus de aquecimento global a desigualdade de rendimentos entre comunidades e países será menor, devido, não apenas, às políticas de redistribuição, mas também por ser possível evitar o agravamento das desigualdades que seria causado por perdas e danos provocados pelos efeitos das alterações climáticas.
“Este relatório mostra que uma rápida transformação do fornecimento de energia e da produção industrial é crucial para alcançar a neutralidade em termos de emissões”, declara Jessica Strefler, do PIK e uma das autoras do trabalho. A especialista explica, em comunicado, que a mudança dos padrões de consumo energético, incluindo a diminuição do próprio consumo, permitirá reduzir as emissões a curto-prazo.