Tecnologia de plasma transforma o revestimento de microalgas para feridas
Os investigadores da Universidade de Flinders deram um grande passo em frente no domínio do tratamento de feridas utilizando uma abordagem inovadora. Utilizando um jato de plasma atmosférico de argónio, eles transformaram com sucesso a Spirulina maxima, uma microalga azul-esverdeada, em revestimentos bioativos ultrafinos.
Estes revestimentos não só combatem as infeções bacterianas, como também promovem uma cicatrização mais rápida das feridas e possuem potentes propriedades anti-inflamatórias. “Isto é promissor, especialmente para o tratamento de feridas crónicas, que muitas vezes colocam desafios devido aos tempos de cicatrização prolongados”, explicam.
Segundo os investigadores, a nova abordagem poderia reduzir o risco de reações tóxicas à prata e a outras nanopartículas e a crescente resistência aos antibióticos dos revestimentos comerciais comuns utilizados nos pensos para feridas.
O mais recente desenvolvimento, publicado na revista internacional de alto impacto sobre nanotecnologia Small, revela uma nova tecnologia assistida por plasma, que acaba de ser patenteada, que transforma de forma sustentável a biomassa de Spirulina maxima em revestimentos ultrafinos bioactivos que podem ser aplicados em pensos para feridas e outros dispositivos médicos e que são capazes de proteger os doentes de infeções, acelerar a cicatrização e modular a inflamação.
A nova técnica pode ser facilmente aplicada a outros tipos de suplementos naturais, afirma Vi Khanh Truong, do Laboratório de Nano-engenharia Biomédica da Universidade Flinders.
“Estamos a utilizar a tecnologia de revestimento por plasma para transformar qualquer tipo de biomassa – neste caso a Spirulina maxima – num revestimento sustentável de alta qualidade. Com a nossa tecnologia, podemos transformar a biomassa em revestimentos para pensos para feridas e esta tecnologia de plasma é a primeira do seu género”, explica o investigador.
O extrato de S. maxima – um tipo de alga verde-azul – é frequentemente utilizado como suplemento proteico e para tratar doenças de pele como o eczema, a psoríase e outras doenças.
Resistência antimicrobiana é uma das principais ameaças à saúde pública
A OMS alertou para o facto de a resistência antimicrobiana ser uma das principais ameaças à saúde pública que a humanidade enfrenta no século XXI. Associada à morte de cerca de 5 milhões de pessoas em 2019, prevê-se que, se não forem tomadas medidas, custará às economias mundiais mais de 1 trilião de dólares até 2050.
Múltiplas alterações genéticas em bactérias comuns, como a Staphylococcus aureus e a Pseudomonas aeruginosa, podem levá-las a tornar-se resistentes a múltiplos antibióticos, formando o que se designa por “superbactérias”.
O coautor, Krasimir Vasilev, NHMRC Leadership Fellow e Diretor do Laboratório de Nanoengenharia Biomédica, afirma que a tecnologia oferece melhores soluções para os atuais produtos comerciais, incluindo revestimentos de prata, ouro e cobre, e é uma ferramenta importante para combater a resistência aos antibióticos.
“Este novo processamento a jusante, facilitado pelo plasma, pode melhorar a extração e a purificação de compostos úteis da biomassa sem a necessidade de solventes nocivos e de um grande consumo de energia”, afirma o Professor Vasilev, acrescentando que “estamos agora a explorar as vias de comercialização desta tecnologia única”.
Segundo o investigador, “atualmente, não existem pensos comerciais para feridas que simultaneamente combatam e protejam contra infeções, modulem favoravelmente a inflamação e estimulem a cicatrização”.
“Acreditamos que a tecnologia oferecerá uma vantagem de mercado aos fabricantes de pensos médicos e, ao chegar aos hospitais, fará a diferença nos cuidados de saúde e nos doentes”, conclui.