Transição para a mobilidade elétrica e diversidade são prioridades



O presidente do BCSD, António Pires de Lima, defendeu ontem uma transição para a mobilidade elétrica e a aposta na diversidade e inclusão, “fundamental” em termos de justiça e competitividade, áreas que considera prioridades para as empresas.

António Pires de Lima falava à Lusa no dia em que decorreu a conferência do BCSD – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, no Porto, subordinado ao tema “Empresas como propósito – Desafios e caminhos para 2030”.

“Nós no BSCD definimos dois desafios prioritários, um numa linha de continuidade com aquilo que vimos fazendo há mais de 20 anos”, que é “obviamente o desafio climático, perceber qual é o papel e o contributo que o tecido empresarial português dá para atingirmos a neutralidade carbónica não para além de 2045”, explicou.

Para António Pires de Lima, “os progressos que o país tem feito são importantes, mas ainda insuficientes”.

As emissões de gases com efeito de estufa em Portugal têm vindo a reduzir-se desde 2004, já desceram mais de 30%. Em 2022, e “com um crescimento económico de quase 7%, Portugal reduziu ligeiramente as suas emissões de gases com efeito de estufa em 2%”, segundo o presidente do BCSD.

“Este caminho comprova que é possível continuar a desenvolver económica e socialmente os países, neste caso Portugal, ao mesmo tempo que se caminha, ainda que mais lentamente até agora do que desejável, para a neutralidade carbónica”, prosseguiu, referindo que “todas as áreas têm contribuído, nomeadamente o setor da energia, onde Portugal é campeão das energias renováveis”.

No entanto, “há aqui um desafio do nosso ponto de vista” que “tem que ser abraçado, que é o desafio da transição para a mobilidade elétrica”, defendeu.

Aliás, como se tem comprovado, depois destes tempos da pandemia, a mobilidade das pessoas é equivalente à qualidade de vida, a felicidade pessoal e ao desenvolvimento económico e social e preocupa-nos que, ao contrário do que acontece nos outros setores, a mobilidade, os transportes tenham crescido em termos de emissões de dióxido de carbono 8% no ano passado, apontou o antigo ministro.

Isto “devia ser um alerta, um alerta não só para o investimento em modos de mobilidade mais amigos do ambiente, como pode ser o caso da ferrovia, mas também um alerta para assegurar que a transição para a mobilidade elétrica ao nível do uso automóvel é acelerada”, referiu.

“Nós temos visto discursos de políticos muito satisfeitos com o posicionamento de Portugal ao nível da mobilidade elétrica”, mas “queria aqui lembrar que (…) só menos de 1% dos automóveis em Portugal são realmente elétricos” e permitem fazer viagens no modo mobilidade elétrica, prosseguiu.

“Estou a excluir daqui os carros híbridos e que a este ritmo de transição para carros elétricos, Portugal vai demorar um par de décadas a ser um país do ponto de vista da mobilidade, um país verde”.

Pires de Lima sublinhou que, das emissões de gases com efeito estufa no ano passado, “28% tiveram como origem o setor dos transportes”.

Portanto, ficou aqui nesta conferência [Empresas com Propósito – Desafios e caminhos para 2030] o desafio para que ao nível da transição para a mobilidade elétrica na área dos transportes “a ambição em Portugal seja maior, seja mais agressiva”.

Caso contrário, “vamos demorar quase duas décadas a fazer essa transição na área dos transportes”.

Um outro desafio prioritário são as pessoas.

“O BCSD abraçou no ano passado a causa da diversidade e da inclusão como um aspeto fundamental em termos de justiça e de competitividade na vida das empresas”, salientou, referindo que “há ainda um longo caminho a percorrer”.

Para se ter uma ideia, apenas “30% dos cargos de direção ou administração das empresas são ocupados por mulheres em Portugal e só 15% dos CEO [presidentes executivos] são mulheres”, referiu António Pires de Lima.

“Se Portugal é um país próximo da paridade naquilo que diz respeito às áreas sociais, a educação e a saúde, é um país ainda com um caminho importante para percorrer na área da economia e da política”, apontou.

Por isso, no BCSD “lançámos este desafio a nós próprios, empresas, para acelerarmos esta evolução, porque empresas mais diversas ao nível da gestão de topo, empresas mais inclusivas são empresas mais justas e mais competitivas do ponto de vista económico”, defendeu.

Esta é uma “prioridade nova” porque há um ano o BCSD estava focado nos temas ambientais e naquilo que à sustentabilidade diz respeito.

Aliás, o BCSD está a fazer um estudo sobre o “estado da arte” em termos de diversidade e inclusão nas empresas portuguesas e nas do BCSD.

Os resultados “serão comunicados e apresentados em outubro”, daqui a quatro meses, “e será seguramente uma base de partida importante para os progressos que queremos que os nossos associados façam nesta prioridade”.

Questionado sobre que conselhos daria às empresas para acelerar a transição, António Pires de Lima elencou dois.

“O primeiro é que estabeleçam metas e objetivos a três e cinco anos e que façam o seu acompanhamento, falo por experiência própria na Brisa”, que tem ajudado bastante à definição de objetivos de paridade, presença de mulheres nos quadros dirigentes “para darmos o salto”, avançou.

O segundo, é que “se procurem encontrar modos de trabalho que compatibilizem a gestão da vida pessoal, nomeadamente familiar”, com a vida profissional, uma vez que nas sociedades da Europa do Sul e também em Portugal existe um maior peso de gestão familiar atribuído às mulheres.

Para Pires de Lima, “as coisas estão a mudar, mas às vezes lentamente, e é preciso encontrar modelos nas empresas – o teletrabalho também pode ajudar”, que permitam às mulheres que querem ser mães e que querem fazer uma carreira profissional ambiciosa “poderem conciliar estas duas valências”.

“Quanto mais familiarmente responsável for uma empresa” mais possível é uma mulher poder “crescer na estrutura hierárquica e de responsabilidades dentro da empresa”, acrescentou.

Aquilo “que assistimos é que muitas vezes as mulheres acabam por, infelizmente, nos países da Europa do Sul e também em Portugal, ter de pôr no nível secundário as suas ambições profissionais” para poderem dar mais peso à gestão familiar.

“E isto tem de ser corrigido”, rematou.





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