Verme peludo com ‘armadura’ pode ter estado na origem de três grupos de animais que vivem ainda hoje



Até há aproximadamente 550 milhões de anos, altura em que se deu a chamada ‘explosão’ do Câmbrico, a maioria dos animais que habitavam a Terra pareciam-se com o que conhecemos hoje como os vermes e as alforrecas.

Depois desse grande período de diversificação de formas de vida, especialmente no mar, começaram a surgir novos tipos de corpos, ou ‘planos corporais’, um fenómeno que ficou indelevelmente marcado nos registos fósseis. Mas antes disso, seres de aparência bizarra dominavam o planeta.

Um deles era o Wufengella. Descoberto na China e com não mais do que 1,30 centímetros de comprimento, o fóssil desse verme ancestral terá estado coberto por placas articuladas que lhe terão dado uma ‘armadura’, bem como por um conjunto de estruturas parecidas com pelos. Os cientistas que o identificaram acreditam que o seu corpo segmentado se possa ter assemelhado ao das minhocas que vivem nos nossos jardins de hoje.

Fóssil do Wufengella descoberto na China.
Crédito: Jakob Vinther e Luke Parry

Num artigo publicado na ‘Current Biology’, a equipa de especialistas do Reino Unido, China e França argumenta que o Wufengella possa ser um antepassado de três grandes grupos distintos de animais que existem atualmente.

Jakob Vinther, da Universidade de Bristol e um dos autores, explica que a criatura fossilizada terá parecido um cruzamento entre um verme anelídeo (Polychaeta) e um molusco (Polyplacophora). “Curiosamente, não pertence a nenhum desses grupos”, assinala.

Em comunicado dessa universidade, os cientistas explicam que no reino animal encontram-se “mais de 30 grandes planos corporais categorizados como filos”, sendo que cada uma dessas divisões agrupa classes que apresentam características que as distinguem de todas as outras. Por exemplo, os braquiópodes, um filo de moluscos que se assemelham aos bivalves, diferem deles por terem um órgão chamado lofóforo que lhes permite filtrar a água dos meios onde vivem e absorver nutrientes e microrganismos.

Um órgão parecido com esse está também presente em dois outros grandes grupos: os Phoronida e os briozoários. Em conjunto com os braquiópodes, os cientistas acreditam que o Wufengella tenha sido o animal ancestral do qual se terão ramificado esses três grandes filos.

Luke Parry, da Universidade de Oxford e outro dos autores, explica que “o Wufengella pertence a um grupo de fósseis câmbricos que é fundamental para compreender como o lofóforo evoluiu” e que o estudo dessa criatura que antecedeu os dinossauros permitiu perceber a evolução dos braquiópodes para animais com duas conchas, a partir de um antecessor que tinha o corpo coberto de placas duras.

“Ao olharmos para os animais vivos, conseguimos ter apenas uma imagem incompleta”, sublinha Greg Edgecombe, outro dos paleontólogos envolvidos na investigação. Com fósseis como o Wufengella, sustenta o cientista, é possível identificar a origem comum de cada um desses três grupos, hoje separados e bem distintos.





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