Veterinários cabo-verdianos suspeitam que população está a envenenar cães
A Ordem dos Médicos Veterinários de Cabo Verde (OMVCV) denunciou às autoridades casos recentes de envenenamento de cães no país, suspeitando que esteja a ser realizado pela própria população, disse ontem à Lusa a bastonária.
No sábado, a líder do Movimento Civil das Comunidades Responsáveis (MCCR), Maria Zsuzsanna Fortes afirmou que só no último ano foram registados cerca de 3.000 casos de envenenamento de cães e gatos no país, com maior incidência no Sal e na Boa Vista, as duas ilhas mais turísticas do arquipélago.
A porta-voz da associação avançou que as análises apontam para um pesticida que é utilizado na agricultura e que é “extremamente potente” e que pode também matar uma pessoa.
“Das denúncias feitas até agora, foram identificadas pessoas singulares”, disse agora a bastonária da OMVCV, Sandy Freire, dando conta que há pessoas a acusarem os vizinhos, mas também agricultores, por causa dos ataques de cães ao gado, frequentes no arquipélago.
A bastonária referiu ainda que tem recebido denúncias de casos de envenenamento nos próprios condomínios, mostrando-se “assustada” pelo sucedido, já que acreditava que o país já tinha ultrapassado este assunto.
A Sandy Freire notou que os casos aconteciam frequentemente na cidade da Praia, na capital, que agora até está “mais calma”, enquanto aumentam nessas duas ilhas.
“É algo que nos preocupa mais”, lamentou a mesmo fonte, alertando para o uso de substâncias perigosas, às quais preferiu não identificar, mas que colocam em risco os animais, mas também a população.
Por isso, chamou atenção para a questão do acesso desses produtos no mercado cabo-verdiano e adiantou que a ordem já encaminhou as denúncias para as autoridades competentes, nomeadamente ao Ministério da Agricultura e Ambiente e à Inspeção Geral das Atividades Económicas (IGAE).
“Porque é inadmissível, mesmo que sejam pessoas singulares ou coletivas, se estão a fazer isso é porque têm acesso aos produtos. Como é que estão a ter acesso? Quer dizer que é um acesso fácil e que é um preço bom”, justificou ainda Sandy Freire.
Para a médica veterinária, Cabo Verde sempre tentou resolver a questão do envenenamento de cães e gatos “pontualmente”, pelo que defende um “trabalho de base”, envolvendo várias entidades.
“Temos que ver o problema de uma forma global para tentar solucioná-lo”, prosseguiu, sugerindo ainda uma aposta na educação da população, para evitar os conflitos, quer entre vizinhos, quer entre criadores de gado e os donos de cães e os abandonados nas ruas.
“Os cães não foram parar ali do nada. É a mesma população que está a ajudar o animal na rua, que está sem castração e sem outro tipo de controlo, vamos ter o crescimento da população canina de forma desorganizada”, descreveu a bastonária.
Em Cabo Verde, são frequentes casos de morte de cães e gatos por envenenamento na via pública, o que tem levado a reações e queixas das associações de defesa desses animais.
Em fevereiro de 2002, Brigitte Auloy, diretora da Fundação Brigitte Bardot, elogiou, na Praia, as mudanças na gestão da população canina em Cabo Verde, pediu envolvimento das autoridades e considerou que tal podia melhorar a imagem do turismo no arquipélago.
Mas a presidente do MCCR disse que os últimos casos vão ter um efeito “muito grave” para o país, que assinou acordos internacionais a assumir os princípios da gestão ética da população canina e felina.