Vida em terra é mais vulnerável a extinções em massa e demora muito mais tempo a recuperar



A perda de espécies de animais nos ecossistemas em terra tem uma maior probabilidade de gerar colapsos ecológicos de grande escala do que nos ambientes marinhos. E a recuperação de extinções em massa é muito mais lenta em terra do que nos mares e oceanos.

Esta é a principal conclusão de uma investigação realizada por paleontólogos, geólogos e paleoecólogos da Universidade do Sul da Califórnia (Estados Unidos da América) que, num artigo divulgado recentemente na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, estudaram a extinção em massa que ocorreu há cerca de 201 milhões de anos, no final do período Triássico, e que provocou o desaparecimento de várias espécies, tanto no mar como em terra.

Esse evento é considerado uma das cinco grandes extinções em massa do éon Fanerozoico e “afetou profundamente ecossistemas marinhos e terrestres”, lê-se no estudo. Terá sido causada pela fragmentação do antigo supercontinente Pangeia, que fez disparar a atividade vulcânica e lançou para a atmosfera enormes quantidades de gases com efeito de estufa. E os efeitos foram catastróficos.

Os mares e oceanos aqueceram, tornaram-se ácidos e desprovidos de oxigénio, extinguindo várias espécies de vertebrados e de invertebrados. Em terra, assistiu-se à perda de florestas, à erosão e desertificação dos solos, a intensos incêndios e a impactos profundos no ciclo da água, e as espécies de animais sofreram grandes perdas.

Contas feitas, estima-se que a extinção em massa do fim do Triássico tenha causado o desaparecimento de perto de 76% de todas as espécies marinhas e terrestres.

Ao reconstruírem, virtualmente, os ecossistemas e a biodiversidade desse distante período geológico da História da Terra, os cientistas perceberam que, no rescaldo do cataclismo, a vida recuperou de formas diferentes.

Kiersten Formoso, uma das autoras do artigo, explica que os ecossistemas terrestres sofreram extinções mais severas, comparando com as que sucederam no mar, e demoraram muito mais tempo a recuperar grupos de animais para alcançar o equilíbrio ecológico que existia antes da catástrofe.

E isso aconteceu, detalha a cientista em comunicado, porque existiam menos espécies para preencher os nichos ecológicos deixados vagos pelas espécies e grupos que se extinguiram. Nos ecossistemas marinhos, a recuperação foi mais rápida, uma vez que “muitos grupos taxonómicos podem estar a fazer a mesma coisa ou coisas semelhantes”.

Posto de outra forma, os mares e oceanos tinham uma maior variedade de espécies e grupos que, antes da extinção, desempenhavam as mesmas ou semelhantes funções nos ecossistemas, pelo que foi possível mantê-los relativamente estáveis. Em terra, isso não aconteceu, porque as espécies e grupos que ocupavam determinado nicho, e que desapareceram, não tinham quem ocupasse o seu lugar.

Numa altura em que a perda de biodiversidade é considera uma das grandes três crises planetárias dos nossos tempos, a par das alterações climáticas e da poluição, estes investigadores dizem que este estudo deve ser encarado como um alerta sobre a fragilidade, maior do que se pensava, dos ecossistemas, especialmente dos terrestres.

“Entender como a vida respondeu às alterações climáticas no passado é um dos grandes objetivos da paleontologia e um que nos fornece perspetivas e ferramentas para enfrentar a nossa crise de biodiversidade moderna”, assinala Nathan Smith, curador do Instituto de Dinossauros do Museu de História de Natural de Los Angeles, entidade que também participou nesta investigação.





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