De olhos esbugalhados e muito rápidas, estas assustadoras aranhas ouvem com as pernas
Com os seus enormes olhos, estas aranhas conseguem ver 2.000 vezes melhor do que os humanos à noite, um estudo recente descobriu que conseguem ouvir… com as pernas.
A Deinopidae é uma predadora muito rápida, apanhando as suas presas numa fração de segundo com mini-redes móveis. Agora, uma nova investigação sugere que estes aracnídeos usam as pernas não apenas para se movimentar, mas também para ouvir.
As aranhas não têm ouvidos, geralmente um pré-requisito para ouvir. Portanto, apesar dos pêlos e receptores sensíveis à vibração nas pernas da maioria dos aracnídeos, os cientistas há muito tempo que pensam que as aranhas não podiam ouvir o som enquanto ele viaja pelo ar, mas em vez disso sentiam vibrações nas superfícies.
A primeira pista de que poderiam estar errados foi um estudo de 2016 que descobriu que uma espécie de aranha saltadora pode sentir as vibrações das ondas sonoras no ar.
A Deinopidae em vez de construir uma teia e esperar pela sua presa, estas aranhas ficam penduradas de cabeça para baixo em pequenas plantas numa linha de seda e criam uma mini-teia nas suas quatro patas dianteiras, que usam como rede para apanhar a próxima refeição. As aranhas investem contra insetos que vagam abaixo ou saltam para trás para apanhar insetos voadores no ar.
Para determinar o quanto essa agilidade dependia da visão, os cientistas colocaram uma pequena venda nos olhos das aranhas. Embora elas não pudessem capturar insetos no solo, ainda conseguiam apanhar presas em voo, indicava o estudo de 2016.
Para descobrir como estas aranhas possuiam essa habilidade, os cientistas desenvolveram um novo estudo: primeiro, inseriram eletrodos minúsculos nas pernas de aranha que foram removidas para determinar se os receptores de detecção de vibração nos seus membros podiam detectar o som. Em seguida, implantaram eletrodos no cérebro de outras aranhas – que ficaram com todas as pernas – para ver se processavam o som.
Por fim, colocaram as aranhas (e as pernas) numa cabine que eliminou todas as vibrações de baixo e tocou diversos sons a 2 metros de distância. Eles descobriram que tanto as pernas quanto as aranhas vivas responderam a uma ampla gama de frequências, desde o ronco baixo de 100 hertz (como pode ser feito por um camião a passar) até o lamento agudo de 10.000 hertz, relatam os cientistas na Current Biology.
Os cientistas tocaram os cinco sons que receberam as respostas mais fortes para 25 aranhas na natureza e 51 no laboratório. Quando a equipa tocou tons nas frequências de 150, 400 e 750 hertz – que são semelhantes aos sons de batidas de asas de borboletas, moscas e mosquitos – mais da metade das aranhas começaram a dar cambalhotas como se fossem caçar.
Mas as aranhas permaneceram paradas durante os tons de frequência mais alta de 2300 e 4400 hertz. Stafstrom, ecologista sensorial da Universidade Cornell, acha que é porque esses tons agudos se enquadram na faixa de som feita pelo chilrear dos pássaros, que podem devorar as aranhas. Mas outro especialista não ficou convencido e alertou para o facto de que as aranhas são ativas à noite, ao contrário de muitos predadores aviários. As aranhas podem ser sintonizadas com outros predadores noturnos, destaca.
Agora, Stafstrom quer ver se as aranhas conseguem dizer de onde vêm os sons. “Não queremos perder uma refeição e queremos ser bastante precisos”, disse. Se essas aranhas usarem a audição direcional, como ele suspeita, isto pode ajudar a explicar a velocidade dos seus ataques aéreos, acrescenta.
Como todas as aranhas têm esses receptores sensíveis à vibração nas suas pernas, as descobertas levantam a questão de quão comum é a audição entre elas.