Crânios das aves modernas podem ter evoluído de antepassado com traços de dinossauro



Quem nunca ouviu dizer que as galinhas descendem dos dinossauros? As patas escamosas dessas aves trazem à mente imagens das icónicas e intemporais obras cinematográficas de Steven Spielberg. Contudo, será apenas uma ideia mal concebida ou terá alguma ponta de verdade?

Um grupo de investigadores da Academia Chinesa de Ciências e do Museu Field de História Natural, em Chicago, descobriu que os crânios das aves modernas evoluíram de crânios de aves ancestrais que tinham traços da anatomia dos grandes répteis que dominaram a Terra milhões de anos antes de os humanos surgirem.

A descoberta surgiu da análise e da reconstrução tridimensional, através de computador, do crânio de uma ave fossilizada com cerca de 120 milhões de anos, chamada Yuanchuavis kompsosoura, do Cretácico Inferior, encontrado no nordeste da China.

Reconstrução digital do crânio fossilizado do Yuanchuavis kompsosoura.
Credito: Wang Min

Explicam os cientistas que a maioria das aves modernas tem um crânio cinético, que lhes permite elevar a parte superior do bico independentemente da caixa craniana, um movimento tornado possível devido à presença de várias articulações entre os ossos do crânio.

Contudo, o crânio do Y. kompsosoura não apresenta essa mobilidade, e, ao invés, exibe uma rigidez que o aproxima da anatomia cranial dos dinossauros.

Recorrendo a tomografias computorizadas, a equipa analisou o esqueleto do fóssil Y. kompsosoura, do grupo de aves extinto conhecido como Enantiornithes e que desapareceu juntamente com os dinossauros no final do período Cretácico, há cerca de 65 milhões de anos, e percebeu que o crânio da ave fossilizada tem características encontradas nos dinossauros, bem como nos crocodilos, nos lagartos e nas cobras.

Assim, o Y. kompsosoura apresentava uma estrutura craniana com traços semelhantes à dos Triceratops e dos Tyrannsaurus, bem como um osso pterigoide encontrado em fósseis de Velociraptor e noutros dinossauros que se acredita serem parentes muito distantes das aves.

Contudo, apesar de o crânio dessa ave fossilizada ser mais próximo dos dinossauros do que das aves que hoje conhecemos, os cientistas descobriram, através da análise do palato do Y. kompsosoura, que já estavam presentes as características que acreditam que possam ter dado origem à formação de um crânio cinético.

“Novas características evoluem de outras mais antigas”, explica Wang Min, o primeiro autor do artigo publicado na revista ‘eLife’, acrescentando que o crânio cinético das aves modernas deve ter evoluído de um antecessor que não tinha essa capacidade, como o Y. kompsosoura.

Thomas Stidham, outro dos cientistas envolvido na investigação, aponta que a maioria das pessoas poderia pensar que as aves ancestrais tinham crânios como as dos dias de hoje, mas assinala que esses antecessores não tinham ainda abandonado a sua ligação aos dinossauros e que a evolução de um pequeno dinossauro com penas até uma ave como hoje as conhecemos “não foi uma linha reta”.





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