Microclimas podem ser refúgio para as salamandras à medida que as alterações climáticas avançam
As salamandras são anfíbios que tendem a passar as suas vidas a caminhar rente ao solo, onde as temperaturas e os níveis de humidade são, regra geral, diferentes, e mais estáveis, dos que se podem registar a maiores alturas.
É por isso que uma dupla de investigadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos da América (EUA), defende que essas condições ambientais junto ao solo, que constituem microclimas, podem ajudar as salamandras, e outros animais, a sobreviverem aos efeitos provocados pelas alterações climáticas.
Para esses cientistas, autores de um artigo publicado na revista ‘Journal for Nature Conservation’, os modelos climáticos que têm vindo a ser desenvolvidos para prever a distribuição das salamandras no quadro das alterações climáticas focam-se, sobretudo, na macro-escala, isto é, habitualmente têm apenas em conta a temperatura do ar bem acima do solo e abrangem grandes áreas. Isso faz com que esses microclimas, que servem de refúgio aos anfíbios, não sejam devidamente contemplados.
Debruçando-se sobre o Parque Nacional das Great Smoky Mountains, que é conhecido como a ‘Capital Mundial das Salamandras’, na região oeste dos EUA, os investigadores dizem que alguns estudos anteriores apontam para o desaparecimento quase total dos habitats de algumas espécies de salamandras. No entanto, argumentam que esse quadro negro torna-se um pouco mais otimista quando são considerados os microclimas e quando são usadas escalas espaciais mais reduzidas.
Ainda assim, apesar de ser uma realidade mais positiva, “continuam a ser más notícias”, diz Sam Stickley, um dos autores do estudo, indicando que as estimativas desta equipa de especialistas aponta para reduções de entre 55% e 80% do habitat das salamandras nesse parque em particular.
Para o cientista, os modelos climáticos ‘típicos’ que têm sido usados para avaliar os possíveis efeitos das alterações climáticas sobre as salamandras deixam de fora “variáveis microclimáticas junto à superfície [dos solos]”, acrescentando que, apesar de existirem já avanços significativos na tecnologia de sensores ambientais que permitem recolher dados nesses microclimas, a sua utilização é ainda “relativamente rara”.
Contudo, Stickley está confiante de que, com a partilha de dados e de tecnologia, as previsões climáticas serão cada vez mais robustas e passarão a incorporar dados microclimáticos que permitirão ter visões mais precisas sobre os impactos da crise climática nas populações de salamandras. Mesmo reconhecendo que os modelos microclimáticos não são uma solução perfeita para antever a evolução populacional desses animais, por não contemplarem indicadores como a predação ou doenças, o investigador considera que têm um grande potencial para ajudar nos esforços de conservação dessas espécies.
“As salamandras são uma parte realmente integral da teia trófica da floresta”, explica, pois, alimentando-se de insetos, são importante agentes de controlo natural de pragas, ao mesmo tempo que desempenham um papel central na renovação da matéria orgânica dos solos.
“As pessoas não fazem ideia de quantas salamandras estão debaixo dos seus pés numa floresta, a desempenharem todas estas cruciais funções ecológicas”, salienta, acrescentando que o seu papel nos ecossistemas “é extremamente importante e tem de ser preservado”.