Dia Mundial dos Oceanos: Cerca de 80% dos recifes podem adoecer até ao final do século
Nos últimos 25 anos, fruto do aquecimento dos oceanos, os casos de doenças de corais triplicaram, alcançando hoje quase 10% dos recifes em todo o mundo. Se as temperaturas continuarem a subir – um cenário que os cientistas não descartam –, então a prevalência de doenças pode chegar quase aos 80% em 2100.
O alerta é feito por um grupo de investigadores da Austrália, que acreditam que, se a trajetória de aquecimento se mantiver, poderemos vir a assistir à proliferação de endemias nos recifes e à morte de grandes números de corais, provocando a degradação dos ecossistemas costeiros e dos grupos humanos que deles dependem para viver.
Samantha Burke, da Universidade de New South Wales e principal autora do artigo publicado na ‘Ecology Letters’, salienta que as doenças são uma das principais causas da morte dos corais e da degradação dos recifes a nível global. “E os nossos modelos preveem que continuará a piorar”, assevera.
Mas nem todos os oceanos serão afetados por igual. De acordo com a investigação, os corais no Pacífico serão os mais afetados pelas doenças, comparativamente ao Atlântico e ao Índico.
Embora reconheça que as ameaças à sobrevivência dos corais não se limitam ao aquecimento das águas marinhas, Burke afirma, no entanto, que “é claro que a prevalência das doenças nos corais está a aumentar em todo o mundo”, e que sem ações urgentes para reverter a subida da temperatura dos oceanos, cada vez mais corais serão afetados.
Apesar de a contração de doenças não ser necessariamente uma sentença de morte, a cientista diz que “a maioria dos corais que adoecem acabam por morrer”. E acrescenta que “como os recifes demoram muito tempo a estabelecer-se, os corais podem não recuperar e secções inteiras do recife podem perder-se”.
O colapso dos recifes de coral ditará grandes perturbações
Os recifes de coral são dos habitats mais biologicamente diversos do planeta, rivalizando com as próprias florestas tropicais, consideradas arquétipos da biodiversidade. Por isso, a sua degradação e colapso terão consequências que vão muito além dessas regiões marinhas.
Albergando quase um quarto de todos os peixes que vivem no grande oceano global, os recifes são fundamentais para a sobrevivência de várias comunidades humanas costeiras, que deles dependem para a obtenção de alimento e para a geração de receitas do ecoturismo ou do turismo de Natureza. Sem os recifes, essas comunidades enfrentarão sérios problemas.
“Há medida que os oceanos aquecem, aumenta o stress dos corais, que podem diminuir a sua resposta imunitária”, observa Burke, indicando que águas marinhas mais quentes podem criar as condições ideias para a proliferação de patógenos, como fungos e bactérias, que poderão causar a morte dos corais.
Os investigadores reconhecem que é preciso mais conhecimento científico para se compreender melhor os processos patológicos dos corais e como o surgimento de doenças está associado, ou não, à ação de fungos e bactérias. Só assim, argumenta, será possível criar programas de conservação que ajudem a proteger os recifes e os complexos ecossistemas que eles suportam.
“É provável que a solução para as doenças dos corais seja complexa e exija ações em larga e em pequena escala”, diz Burke, mas “não podemos simplesmente ficar sentados à espera de uma solução mágica, como um antibiótico universal”.
A ação mais eficaz, defende, é “desenvolver estratégias de mitigação eficazes” das alterações climáticas, para impedir que os oceanos ultrapassem um limiar térmico além do qual nada de bom nos aguarda.