Urubu-rei: Nascimento de cria em Portugal é boa notícia para a espécie



Os urubus-reis (Sarcoramphus papa) são uma espécie de abutre nativa do sul do continente americano, distribuindo-se desde a Argentina ao México, passando pelo Belize, Bolívia, Brasil, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana, Nicarágua e Guatemala.

“Só não ocupa a zona dos Andes”, de maiores altitudes e temperaturas mais baixas, explica à ‘Green Savers’ Andreia Pinto, coordenadora do Programa Europeu de Espécies Ameaçadas (EEP), promovido pela Associação Europeia de Zoos e Aquários, e é responsável pela reprodução em cativeiro do urubu-rei no continente.

Embora a espécie esteja atualmente classificada como “Pouco Preocupante” no que toca ao seu estado de conservação global, Andreia Pinto diz-nos que a degradação e destruição das florestas representam uma ameaça séria a futuro deste abutre.

“Não é uma espécie que esteja em perigo, mas está em declínio” em meio selvagem, salienta, acrescentando que essa ave vive em zonas de floresta e precisa de árvores antigas para colocar os seus ninhos.

“Normalmente nidifica na base dos troncos de árvores antigas e grandes”, afirma Andreia Pinto, indicando, contudo, que há casos de nidificação em ravinas no Brasil.

Embora não esteja atualmente em risco de extinção, esta espécie de abutre é ameaçada pela destruição das florestas e das árvores onde nidifica, e as populações selvagens estão em declínio.
Foto: Zoo de Lagos

A juntar à perda de habitat causada pelas atividades humanas, os urubus-reis são aves que só atingem a maturidade sexual, isto é, a idade adulta, por volta dos oito anos, só põem um ovo por época e nem todos os anos se reproduzem. Essa reprodução mais lenta pode, em conjugação com ameaças antropogénicas, pode, eventualmente, vir a agravar o estado de conservação da espécie.

Por isso, quando em junho passado, mais precisamente no dia 19, o Zoo de Lagos registou o nascimento de uma cria de urubu-rei, os especialistas tomaram o acontecimento como uma boa notícia para esse grupo de aves necrófagas.

A progenitora veio para o zoológico algarvio desde o Zoo de Frankfurt, na Alemanha, e o macho do Randers Regnskov – Tropical Zoo, na Dinamarca, ao abrigo do EPP, um programa que abrange cerca de 80 urubus-reis em toda a Europa.

O nascimento foi um momento a assinalar, uma vez que esta é uma espécie que tem dificuldades em reproduzir-se em cativeiro. Este ano o programa europeu registou o nascimento de apenas três crias, uma delas aqui em Portugal. As outras duas nasceram no Zoo de Berlim (Alemanha) e no Zoo de Ostrava (Chéquia).

Os abutres e a associação à morte

Para algumas pessoas, os abutres podem não estar no topo da lista das aves preferidas, associando-os à morte e à putrefação. Andreia Pinto explica que tal se poderá dever ao facto de essas aves se alimentarem de cadáveres em decomposição de outros animais, mas salienta que eles não caçam, atuando, ao invés, como ‘recicladores’, e ajudando a combater a propagação de patógenos potencialmente nocivos para os ecossistemas ao alimentarem-se da carne morta.

Descrevendo-a como uma espécie “grande e bonita”, a especialista, que é também curadora de aves do Zoo de Lourosa, espera que o urubu-rei possa vir a ser um embaixador deste grupo de aves e ajude a cativar a admiração e interesse das pessoas, desconstruindo a associação negativa à morte que sobre ele possa ser feita e promovendo uma perceção mais positiva, enquanto agente importante do ciclo de nutrientes e do combate a doenças nos ecossistemas.





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